A armadilha do consignado

Bancos gostam de realizar grandes operações financeiras, com lucros inimagináveis, mas também não dispensam a oferta de dinheiro àqueles que comprovam ter capacidade de pagar os empréstimos que tomam. A maior vítima dessa cruel engrenagem se chama ‘aposentado’.

Na semana passada, o Senado aprovou medida provisória (MP) que aumenta de 35% para 40%, o limite do empréstimo consignado, cujo alvo principal são os aposentados do INSS. Desses 40%, 5% do valor das aposentadorias podem ser usados em operações com cartão de crédito. Os demais 35% com empréstimos e financiamentos. Por se tratar de uma MP, a nova margem entrou em vigor assim que editada pelo Executivo, em outubro do ano passado.

Crédito consignado é descontado diretamente do contracheque da pessoa que tomar o empréstimo. A modalidade geralmente apresenta algumas das menores taxas de juros do mercado por conta do baixo risco de inadimplência.

Entretanto, esse céu de brigadeiro, na maioria das vezes, provoca tempestades. A começar pela insistência absurda de empresas que, através do celular, buscam novos clientes. Transforma a vida do sujeito num inferno. Pior, no entanto, é o cidadão saber que sua aposentadoria foi aprovada, mas que essa informação chegou antes aos bancos e empresas.

A oferta de dinheiro fácil, com juros baixos, é convidativa, porém a malandragem de várias instituições financeiras é de uma permissividade espantosa. E o resultado é o crescente número de pensionistas e aposentados enganados em todo o País. E uma vez concretizada a sacanagem, o devedor se sente sem chão e com seu orçamento comprometido por muito tempo.

No ano passado, em apenas uma plataforma de queixas do governo, foram 71 mil reclamações de assalariados, aposentados e pensionistas, além de outras 17 mil de servidores públicos. E não há nenhum indicativo de que isso vá mudar a curto ou médio prazos.

 

Ozório Mendes é advogado militante na Comarca, foi vereador e presidente da Câmara na gestão 1983/1988