Tragédias anunciadas

Alguns ingredientes da tragédia anual, que ceifa vidas, derruba casas e alaga as cidades, são bastante conhecidos: precipitação pluviométrica atípica, falta de planejamento urbano, conscientizar a população e preguiça em fiscalizar e agir de modo a proteger o ser humano.

E todo início de ano esse triste espetáculo se repete, sem nenhuma perspectiva de que vá mudar algum dia.

Em Mairiporã, ainda em menor escala que em outras regiões brasileiras, há casas construídas em morros, penhascos, sem qualquer planejamento e um mínimo de discernimento. Se o cidadão é culpado, a fiscalização da Municipalidade também. Todos correm depois que deslizamentos e desabamentos são uma realidade.

Se existem áreas de risco identificadas, é preciso acabar com elas e obrigar os moradores a deixar um imóvel que é uma verdadeira bomba pronta a explodir na primeira chuva mais forte.

Na vizinha Franco da Rocha a situação é ainda mais desoladora. Mas as autoridades de lá não se preocupam em dar segurança à população. Quantas vezes cenas do centro daquele município debaixo d’água foram vistas na televisão nos últimos 30 anos? Sempre!

Perdas humanas e prejuízos de toda ordem se repetem a cada verão chuvoso, como se fossem parte de uma macabra tradição de irresponsabilidade solidária com os governos constituídos.

Se há morro, se há terra, se se criam condições para toda sorte de problemas em tempos molhados, não é culpa da chuva. É responsabilidade repartida entre quem constrói  em locais de risco e aqueles que insistem em um modelo de desenvolvimento que produz a morte como resultado corriqueiro.

Ano que vem, em janeiro, tudo o que estamos vendo e lamentado agora volta aos noticiários, tragédia que ganha novos ingredientes, danos e prejuízos. Ah, e repórter de TV explorando o choro e o lamento das vítimas.

 

Ozório Mendes é advogado militante na Comarca, foi vereador e presidente da Câmara na gestão 1983/1988