Tarde demais

Tarde demais é um preço daqueles que é dureza de pagar. Há quem não aceite e finja para si mesmo que não enxerga as verdades. Como a idade que chega e o sujeito insiste em querer parecer menininho. É triste de ver. Não sei se tenho pena ou aquela tal de vergonha alheia. Tanto desespero e o que importa sendo deixado para trás. Como diria Mario Quintana: “A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa”. Os significados e as belezas da existência estão mesmo na percepção de que: “Quando se vê, já são seis horas!
Quando se vê, já é sexta-feira! Quando se vê, já é natal…Quando se vê, já terminou o ano…Quando se vê perdemos o amor da nossa vida”.
Impressionante como se perde o valioso tempo com tanta futilidade ou egoísmo. Essa semana, uma menina ainda, coitada; faleceu vítima de envenenamento depois de comer um bolo de pote que recebeu de forma anônima e com um bilhete.
Mesmo sem saber a procedência aceitou o tal presente e pior que isso, comeu o bolo. A sua preocupação foi a de enviar mensagem para a amiga, brincando com o fato e dizer coisas do tipo: “o que não mata, engorda. Se eu morrer, morri”.
Morreu mesmo envenenada. Uma vida ceifada aos dezessete anos de um jeito tão banal e tão absurdo que é difícil comentar dentro de uma lógica plausível, dada a quantidade de absurdos que envolvem esse fato. Provável que essa moça tenha partido sem nunca ouvir falar a respeito de Mário Quintana, como tantos desta geração. Ser inconsequente não é uma característica exclusiva deste tempo, eu sei, mas que a tecnologia fabrica mentes babacas que pensam que a vida é o tik tok, disso eu tenho certeza.
Se o meu final de história for um “tarde demais”, tudo terá sido em vão. Então, me esforço na gratidão e para não me deixar levar pela vaidade e relembro que sei pouco e que poderei saber mais ao lado de quem também estiver indo em frente. Quem chega com correntes, preso as suas carências e medos, geralmente suga de nós o que temos e depois vai embora, acrescentando nomes as suas listas de culpados por sua própria incapacidade de olhar para além do nariz. O verbo limpar é só um eufemismo quando caem as máscaras.
Eu tenho sempre falado do tempo, essa quarta dimensão que sofre a influência da relatividade. A sabedoria bíblica também menciona sobre o tempo e pode ser que estou tão tiozinho que fico repetindo as mesmas coisas. Não tive medo da morte e continuo não tendo, mas sim medo de perder pessoas próximas. Me sai bem na organização do luto, mas por enquanto não quero experimentar outra vez.
Pior é quem morre em vida, padecendo de arrependimentos na percepção de que o tempo passou e não viu, não percebeu, não deu valor ou não quis quando podia. Com a correria o tempo parece ainda mais uma realidade de rápida velocidade. Sorte que o que é bom dura pouco, mas o que é ruim também dura. Falta mesmo é paciência para as esperas.
Há o que eu ainda espero e confio, embora tantas vezes bate um pouco de desânimo. Quando fico desanimado dura pouco, ou será muito? Depende do ponto de vista, mas o jeito como tenho fé, me ergue de um jeito desconcertante. Não é mágica, nem nada de extraordinário, pois que no ordinário do cotidiano, os fatos se sucedem e criam belos desenhos, ainda em dias nublados.
Assim, quando me arrependo, ainda tenho tempo de fazer diferente e ser um pouco melhor!

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”