Sobre os dias nublados e lições de vida

Na faculdade eu aprendi com o Professor Márcio Antonino, grande mestre, que nos dias nublados os poetas se viam mais tristes e a flor da pele para a escrita. Como se não poder ver muito longe, nesse exercício de limitação, os fizesse olhar mais para si mesmos, aumentasse a sensação de fragilidade e desta maneira ficassem mais inspirados para a composição. Não acredito que dias nublados precisam ser tristes, mas é fato que muitos bons textos foram criados a partir de dias cinzentos. Todos temos nossas saudades e dores e a falta de cor e da alegria do sol entrando pela janela, sejam mesmo um convite a introspecção.

Não é meu caso esses dias, nem em dias nublados ando muito inspirado. Meus pés andam mais firmes no chão e ando observando com mais racionalidade as pessoas e situações ao redor. Melhor do que se lamentar por alguém ou tempo perdido, prefiro mesmo ser grato pelo tempo vivido e até mesmo grato pelas decepções. O que existe de “cara de pau” não é brincadeira! Basta distribuir uns “nãos” que as máscaras começam a despencar. Sorte minha estar mais livre e não me apegar por quem facilmente percebo que não vale a pena. Primeiro que dor da barriga não dá só uma vez, como dizem os antigos, depois porque no final das contas, grosseiramente, ninguém paga por mim as minhas contas.

Não se assuste leitor, se parecer que meu coração anda peludo. Não é bem assim! Fato é que minha generosidade cada vez se afasta da ingenuidade. No mínimo alerta de perigo, logo me afasto e a facilidade para isso pode parecer frieza, mas é só liberdade interior. Se tem uma coisa que me irrita é gente que só me procura quando precisa. Sei que não estou contando novidade e também não descobri a américa. Claro que você pode pensar que isso é muito comum e acontece com todos. A relação de interesse rege as coisas, eu sei, mas apesar disso, há casos que isso extrapola todos os limites. A audácia de alguns banaliza tanto essa coisa do interesse que eu chego a ficar envergonhado pela pessoa e não por mim.

Há um outro aspecto que puxei a minha mãe. Ela sempre dizia: “Detesto gente tonta”. Da mesma maneira, eu devo estar rabugento ou então velho, já que me dá nos nervos quem gosta de, como dizem hoje, “meter o louco” para conseguir algo de mim. Por sorte, minha mãe também deixou outras lições. Sei educadamente sair deste tipo de situação. Colocar alguém no seu devido lugar é uma arte e neste aspecto faço com gosto. Nem sempre sei ser o gentleman que deveria, mas me controlo para não parecer esquentadinho.

Estou popularesco no vocabulário esta semana, prezado leitor do Correio, mas me perdoe se exagerar. Quero que possa me compreender e desta maneira que em mim não exista nenhuma sombra ou máscara de tal modo que minhas linhas revelem minha alma e personalidade. A verdade liberta e o ensinamento bíblico é o grande passaporte para a minha paz. Continuo imperfeito, luto com as minhas incoerências, mas diferente de outros tempos, avancei bastante no desapego e na tentativa constante de ser melhor, mesmo que para isso seja preciso um passo de cada vez e que este seja lento.

Neste início de inverno, conto os dias para os próximos meses. Como sabem, agora ganhei uma maravilhosa razão para isso. Quando me surpreendo, logo procuro olhar com sabedoria e extrair boas lições. O que não é bom, descarto e o que me servir, agarro para não escapar a inspiração, seja como for e como estiver o dia lá fora.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”