Quem me conhece ou lê os artigos por aqui sabe sobre a minha paixão pela aviação. Aliás, o pessoal da aviação é geralmente uma turma apaixonada. Voar é uma vocação que corre nas veias. Alguns vão pilotar e outros não, mas eu diria que o sentimento é o mesmo. Particularmente gosto da aviação comercial. Do vai e vem onde as pessoas podem sair de um ponto e tão rápido chegar a outro viajando em grande velocidade que jamais seria possível por outro modo.
Quando me apaixonei por esses aviões não me lembro exatamente, nem como foi. Só fui voar em 2008, na época ainda do caos aéreo. Viajei bem menos do que gostaria, mas a cada passagem comprada de lá para cá me dá tanta ansiedade que chega a me emocionar quando adentro uma aeronave. Coleciono aqueles manuais que guardo ou que alguém traz para mim de um avião diferente, sonhando em poder conhecer de perto todos e lamentando os que já não estão em operação para transporte de passageiros, como o 747 da Boeing, conhecido como “A Rainha dos céus”.
Quando a viagem termina, já fico desejando a próxima. Em qualquer aeroporto, grande ou pequeno como o da minha querida Bragança Paulista, eu me ocupo naturalmente de namorar essas máquinas. Difícil explicar o fascínio, mas tenho certeza que há leitores aqui que me compreendem.
A imagem que todos viram pela televisão e pelas redes sociais e que chegou em tantos lugares do mundo, me deixou incrédulo. Inicialmente custei acreditar que pudesse ser um voo comercial. Relutei que aquilo pudesse ser daquele momento, mas era. Havia poucos minutos a tragédia tinha acontecido e é preciso acima de qualquer coisa, render o respeito as sessenta e duas vidas perdidas, na certeza de que nada do que possa ser dito vai trazer de volta os entes queridos de tantas famílias que estão obrigadas a durante meses, e pelo resto das vidas lidar com essa perda tão noticiada.
Na data em que escrevo este artigo, boa parte das vítimas ainda não foi identificada e o trabalho continua para que todos possam sepultar com dignidade os seus filhos, pais e amigos que padeceram.
Fico bastante irritado lendo a quantidade de bobagens que são escritas e ditas todos os dias sobre o acidente. Especulações que devem dar o retorno esperado para aqueles que buscam apenas a audiência, sem compromisso nenhum. Desrespeitam as famílias e a verdade ainda guardada nos dados que estão sendo analisados. A exclusividade da busca por visualizações e audiência não encontra limites ou escrúpulos.
Mesmo veículos grandes de jornalismo tropeçam na leviandade e na pressa por encontrar culpados. Neste momento os órgãos competentes ainda estão em fase de coleta de informações e o próximo passo será preparar um relatório preliminar com o intuito de dar um direcionamento do que possa ter ocorrido e quais fatores podem ser contribuintes, já que para algo assim ter acontecido, são necessários diversos fatores e não apenas um único.
Tragédias normalmente chamam mais a atenção do cérebro humano e as tragédias aéreas, principalmente depois de tantos anos sem que tenha ocorrido em nosso país, causam ainda mais espanto. Temos a tendência da percepção de coisas negativas de modo diferente das positivas. Uma assimetria que demonstra que o que é negativo fica mais intenso. Deve ser por isso que há programas televisivos especializados em desgraça. No caso do acidente aéreo sempre chama muito a atenção por serem raros. O último semelhante havia acontecido no ano de 2007 e o impacto emocional é muito forte em nós.
“Quando um sai da rota, todos sentem”, é uma frase comum entre os aviadores e cada vez que algo tão triste aconteceu no decorrer da história, felizmente as vidas ceifadas não foram em vão. Grandes lições são aprendidas, tecnologias são aperfeiçoadas e outras milhares de vidas são salvas pelas novas aprendizagens. Que desta vez não seja diferente e que as pessoas não fiquem com medo de voar levadas pelo sensacionalismo.
A espera por respostas é dura, pois humanamente somos curiosos e vivemos no período das informações rápidas. Neste caso não é tão simples e não deve ser nunca. Que demore o tempo que for necessário e que ao final da investigação das causas, possamos nos servir dos novos conhecimentos e poupar outras famílias de tanta dor.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”