Se nunca mais me vir

Se não me vê há muito tempo, talvez seja pela minha distração e até mesmo por displicência. Talvez a correria dos compromissos, a procrastinação dos dias em que tenho preguiça até mesmo de levar o copo até a pia tenham feito com que você tenha a sensação de que nunca mais a gente se encontrou.

A vida tem dessas formas de nos separar, seja do mundo, seja das pessoas e até mesmo da memória. As decepções amadurecem e o sábio é quem coloca tudo e todas nas prateleiras que te servem. Talvez não seja culpa minha e você seja o grande responsável pela nossa distância, por se lembrar de mim apenas quando precisa de algum favor, ou ainda nas raras vezes que temos oportunidade ao invés de querer saber se estou bem e feliz, prefere usar de humor negro para descrever que envelheci, que estou mais gordinho, que fiquei rico e metido ou algo assim.

Se nunca mais me vir, gostaria que pudesse lembrar de mim por algo que eu fiz, mesmo que seja algo bobo e muito simples. Se nunca mais me vir, desejo que alguém em algum lugar, mesmo que você não queira, te lembre de algo bom que eu te fiz e que você não sabia. E que esse algo bom seja como doses homeopáticas oferecidas a você e a tantos outros, que uma hora te faça perceber quanto tempo perdeu não me enxergando.

Que a dor de me olhar rápido seja não como um corte profundo no seu coração, mas como um incentivo para que faça o mesmo por quem quer que seja e esteja próximo. Se tiver passado muito tempo que lembrar de mim seja como um sonho, onde meu sorriso nas fotos e na sua memória brotem como cenas de um filme ou porta-retratos que estavam esquecidos em alguma gaveta ou caixa de papelão.

Se não encontrar minhas marcas por aí, então me esqueça de vez! Duvido que não as encontre em você mesma e naqueles que Deus vai te colocar pelo caminho, bons motivos para que saiba que eu não fui embora.

Que continuei nessas linhas, na busca do google, numas fotos e folhas velhas da gaveta e na porção de abraços que eu trouxe para perto do peito cada vez que abri a boca em público e em frente às lentes. Nas palavras que eu anotei no papel ou digitei diante da tela. Em minha voz espalhada pelas redes e que esparramam as ferramentas que eu aprendi nos livros daquela biblioteca na escola Hermelina.

Se lembrar da nossa última vez, daquela que a gente se viu e se essa tiver sido mesmo a última, me perdoe por não me despedir. Pode ser que eu não tenha encontrado espaço, que eu tenha respeitado as suas portas, seus muros e até seus medos, mas que no fundo minha maior vontade tenha sido a de sempre: estar por perto.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”