A morte é assunto recorrente para todos nós. Afinal, não passa despercebida. Pode ser a morte de um idoso ou de alguém muito jovem, ainda assim quando se trata de quem amamos, nos roubará lágrimas. Mesmo que no caso de pessoa bem velhinha ou que estivesse doente, a morte é algo que nunca nos acostumamos.
Parece que não fomos feitos para despedidas e o sabor do limite chegue como uma amarga dose da realidade que procuramos não pensar. Chegará o dia de todos partirmos e em cem anos, ninguém que você e eu conhecemos provavelmente estará vivo. Compreendido isso, cada um se apoia na sua crença para viver sem que essa certeza atrapalhe o tempo em que o coração ainda bate e se pode respirar.
Quando eu era criança gostava de ir aos velórios com minha mãe e o ‘escaton’’ não tinha uma dimensão semântica e nem catequética. Se resumia a gente enxergar de casa a luz acesa do velório embaixo da igreja matriz. Logo minha mãe perguntava: “Quem será que morreu?”.
Mais tarde, no chão dos adros aprendi que a morte na fé católica é consequência do pecado e que Cristo experimentou a morte e a ressignificou, de forma que não devemos temer a morte. Aprendi a crer na ressurreição da carne, embora no túmulo estejamos diante de um corpo corruptível.
Depois desta realidade já não faz sentido falar de tempo, já que o tempo é uma realidade deste mundo. Entendi então que a morte é uma passagem seguida por um juízo particular em que poderei seguir por três caminhos: o do anjo caído, que prefiro mencionar desta forma, o do lugar reservado a purgar os pecados ou que diretamente possa ir aos céus, onde me espera um reino ao lado de quem me criou para viver feliz.
Sou ainda incapaz de compreender tamanha maravilha junto das imperfeições que o pecado causou. Na passagem não permaneceremos adormecidos, como alguns creem, mas sim conectados na comunhão dos santos, podendo orar uns pelos outros, fazendo parte do mesmo corpo que é Cristo e esperando a ‘parusia”.
A luz do catolicismo poderia eu mencionar passagens bíblicas para contrapor princípios religiosos que acreditam de forma diferente, mas a hermenêutica e a minha intenção apenas de refletir a vida a partir da certeza da morte, só me pede que compartilhe, caro leitor, que não temos como saber o que há para além do dia de nosso fim.
Eu vivo da esperança, fugindo da utopia, já que que há o ‘topus’, onde desejo um dia desejo estar. A vida humana é dom entregue sem data e são as nossas escolhas e não um destino previamente definido, que podem alterar as realidades. Pensar com será o fim e ser provocado pela fé de que Jesus voltará, me coloca na dinâmica de antecipar esse retorno cuidando de mim e de quem estiver próximo.
Acredito na intervenção divina, mas olho para os dois lados antes de atravessar a rua e tenho certeza de que morrerei, já que sou criatura e todo ser vive e morre. Como criatura, sou sabedor de um fim, mas ansioso pelo retorno do criador. Me coloco na responsabilidade de preparar o caminho.
Como diria Rubem Alves, o que me fascina em Deus é saber que ele sofre comigo como Pai e que sua ação hoje precisa dos meus braços e pernas, vozes e silêncios.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”