Quando a sétima arte passou por aqui

Com a partida recente de Patrícia Civelli, considerei importante lembrar dos mais audaciosos sonhos do cinema nacional: a Multifilmes S.A., fundada em 1952 pelo italiano Mário Civelli, em parceria com Anthony Assunção. O gigantesco complexo de estúdios tinha cerca de 200 funcionários, 25 prédios, laboratórios fotográficos, cenografia, som, maquiagem, marcenaria e fábrica de refletores. Tudo construído em um terreno de 50 mil metros quadrados, com equipamentos de ponta para a época.
O pioneirismo se materializou em filmes como: Destino em Apuros (1953), considerado o primeiro longametragem parcialmente colorido do país. Acredite! Isso aconteceu em Mairiporã. Na época andaram por aqui estrelas nacionais consagradas como: Procópio Ferreira, Eva Wilma e Herval Rossano. Menciono aqui títulos como: O Homem dos Papagaios, O Craque, Fatalidade, A Sogra e Uma Vida para Dois.
Naquele momento os altos custos não foram correspondidos pela bilheteria, e os negativos revelados no exterior não permitiram ao filme o certificado de produção brasileira. A Multifilmes encerrou suas atividades em 1954, apenas dois anos após nascer e embora os galpões e estúdios tenham sido destruídos para a construção do pedágio da Fernão Dias, e o complexo hoje não exista mais, o legado permanece vivo na memória.
Tenho certeza que muito pelo trabalho do grande professor e memorialista Pedro Tomaz Pereira, que nos deixou há pouco mais de um ano. Diversas vezes conversei com ele e me contava sobre sua indignação de ver na calada da noite as paredes da antiga Multifilmes sendo retiradas para a colocação da praça de pedágio.
Não podemos esquecer jamais que nossa cidade foi palco de uma experiência cinematográfica pioneira e ousada, capitaneada por Mário Civelli. Apesar de breve, seu impacto foi grande: produziu clássicos e enfrentou os desafios de ser tão audaciosa. Compreender e valorizar essa trajetória é mais do que saudosismo, é um ato de respeito à nossa identidade e para mim, motivo de muito orgulho.
O cinema foi uma breve explosão nos anos 1950 por aqui e provou que a criatividade não depende do tamanho da cidade, mas da grandeza do sonho. A vida também é assim em todos os seus aspectos.
Preservar tudo isso é um gesto que de alguma forma mantem acesa a chama que ardeu nos refletores da Multifilmes e reconhecer os degraus que construíram a nossa vasta bagagem cultural como forma de plantar boas sementes para o futuro, alicerçado em um passado de tanta riqueza.
Cada vez que eu conto isso, as pessoas se surpreendem e mais e por essa razão, os que pensam como eu, tratam de multiplicar essas informações, para que jamais sejam esquecidas. O legado de toda pesquisa feita pelo Professor Pedro continuará sendo multiplicado pelos amantes dessa nossa Vila de Juqueri. Nosso amado solo, nossa casa e nossa herança.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”