Quando a máquina de lavar quebra

E a delícia de ter quem conserte (ou pelo menos tente)

Ela parou. De repente, no meio de um ciclo qualquer, como se tivesse decidido me dar um aviso silencioso: “Hoje você vai desacelerar, se quiser ou não.” A máquina de lavar, aquela aliada na rotina, transformou-se em um obstáculo impossível de ignorar. No início, veio o desespero. A pilha de roupas preenchia o cesto, toalhas que já cheiravam a uso, camisas que precisavam estar limpas para os compromissos da semana. Eu não sabia por onde começar.
Como sempre acontece, a mente encontrou pequenas brechas de criatividade. Surgiram ideias improvisadas: lavar à mão algumas peças, separar o que realmente precisava estar pronto, levar boa parte a lavanderia e reorganizar a semana de compromissos. E com essas possibilidades veio também o humor discreto, aquele riso que nasce da resignação e da aceitação: se a vida insiste em nos interromper, talvez seja para que possamos perceber o que sempre esteve diante dos nossos olhos, mas passou despercebido.
Enquanto aguardo o retorno da máquina – e, com ela, o retorno da minha semana mais simplificada – percebo todas as facilidades que damos como certas até que deixam de funcionar. A água que chega sem esforço, a luz que ilumina cada canto, a porta que se abre com um clique, o calor do banho, o simples fato de poder cozinhar e limpar sem reinventar cada gesto.
São essas pequenas coisas, quase invisíveis no dia a dia, que sustentam a nossa rotina e a tornam confortável. Quando uma delas falha, percebemos seu valor, seu peso invisível e sentimos gratidão pelo que antes passava despercebido.
E a parte mais feliz deste episódio desaventurado é ter alguém que se dispõe a consertar. Há uma alegria peculiar em ver alguém que se importa, que se esforça para que algo aconteça.
Alguém que chega com suas ferramentas, observa, examina, desmonta, remonta, tentando devolver vida à máquina. Se não der certo de primeira, tenta novamente, busca soluções, adquire novas ferramentas – o que, inclusive, rendeu uma visita a uma grande loja e shopping de importados, porém isso é assunto para outra coluna. Mas voltando ao acontecimento fatídico da semana, a questão principal é que, de repente, aquele problema que antes você teria que enfrentar sozinha deixa de ser só seu.
Não é apenas o conserto físico que importa, mas o gesto, o cuidado humano, com paciência, improvisação, tropeços e acertos.
Há paz e conforto em saber que existe alguém em quem confiar e que não precisamos carregar tudo sozinhos. A quebra, enfim, não é apenas inconveniente. É também oportunidade.
Oportunidade de perceber pequenas alegrias, de valorizar gestos de cuidado, de rir do imprevisto. Oportunidade de lembrar que a vida, tal qual a máquina de lavar, se organiza em ciclos – me perdoem, mas o trocadilho foi inevitável. Há fases que correm rápidas, outras que parecem nunca terminar; algumas são leves como espuma, outras pesadas como jeans encharcados. Mas todas, sem exceção, giram, passam e acabam nos conduzindo a um novo começo. E, ao final, é impossível não reconhecer que há beleza e aprendizado mesmo nos momentos de caos doméstico.
E eu prefiro viver assim – sei que sou mais feliz desta forma… rindo do que sai do controle, agradecendo pelos gestos de quem caminha comigo e encontrando poesia até nas falhas domésticas. A você, caro leitor, desejo que possa enxergar sentido até mesmo naquilo que quebra.

Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.