Potência para viver

Pela boca de Sócrates, Platão, o pai da filosofia disse que o amor é eros, raiz de algumas palavras, inclusive erótico. O desejo! Sempre desejamos o que não temos e neste caso amamos a ausência. Como o desejo morre com a conquista, o amor também morre dando lugar a um novo desejo por algo que não temos. Essa definição carece de continuidade e já falei sobre ela aqui leitor. Filosofando mais um pouco, chegamos a Aristóteles que vai além, ao propor uma outra definição de amor. Para ele amor não é desejo pela falta, mas sim alegria pelo que já temos. O sentimento de philia, que encontramos em filosofia. A humanidade, ao longo da história, diversas versas vezes enalteceu a sabedoria e essa alegria da sensação de aprender o que não sabíamos.

O amor Aristotélico não tem mesmo nada a ver com o pensamento de Platão, já que se trata do amor não pela ausência, mas pela presença. O afeto com o que já é nosso. Difícil para algumas pessoas que não se contentam, principalmente em mundo cheio de possibilidades e convites.

O outro lado do rio sempre nos parece o melhor lado. Basta que seja lançado um novo aparelho de telefone com uma geração acima, que passamos a desejá-lo, de modo que o nosso pareça completamente ultrapassado e sem graça. A pressa pede a novidade e na maioria das vezes o importante é quem está no hype. A figura de linguagem, que remete ao exagero, ganhou esse termo em inglês graças aos estrategistas da publicidade. Sabemos mais dele do que de hipérbole, pois está na moda.

Pode parecer conformismo, mas Aristóteles me apresenta um sentido bonito da valorização, quando propõe a alegria pelo trabalho que tenho, pelo casamento que escolhi, pelo conforto do que ando dizendo. Não que a alegria que tudo isso causa, represente que já tenho tudo que preciso e possua tudo que posso. Nunca estaremos prontos eu sei, mas a satisfação do presente é sempre uma alavanca eficaz para os novos desafios.

Se desejo, amor de Platão, é a busca do que faz falta, alegria o que é? Com certeza é quando a alma se transforma chegando no ápice. A sensação de potência do ser! Você deve saber caro leitor, dos momentos em que você se sente como se pudesse conquistar o mundo todinho em uma semana ou decide arrumar toda sua casa em poucas horas.

De onde vem esse ímpeto? O que acontece quando você se dá conta dessa energia que te deixa animado? Fique tranquilo, não é fácil definir. Nitetzsche chamava de potência, Shopenhauer de vontade e Freud de libido. Em todos os casos a mesma certeza: tudo isso não é constante. Essa potência de agir oscila e é preciso descobrir como mantê-la. Cada um de nós é capaz de descobrir o que potencializa isso, já que as respostas estão no íntimo do silêncio e reflexão.

Tenho descoberto e redescoberto o que me move e traz essa alegria. Adoro o que eu faço e me sinto imensamente satisfeito com o que eu digo e com a forma com que escolho quem fica perto e quem afasto. Sem dificuldade, enxergo rápido quem não merece estar perto de mim. Minhas prateleiras mentais são libertadoras e coloco cada qual no seu lugar. Descubra a sua e deixe a existência mais leve, sem deixar de desejar o que não tem, mas também se apaixonando pelo que já conquistou.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”