Não é difícil já ter escutado esta frase: “pode falar que estou ouvindo”, de alguém que está olhando a tela do seu smartphone e até digitando enquanto você está dizendo algo. Se acha inofensivo, é preciso pensar que o mau hábito pode também ser repetido quando se está dirigindo, o que segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego, simplesmente multiplica por quatro o risco de desastre no trânsito. Já vi até motociclistas pilotando com uma mão só, mas quero mesmo é me ater a essa nova conduta de tornar normal esse tipo de cena.
Parece meio cultural agora notar um sujeito falando enquanto o outro começa olhar para o celular como se fosse a coisa mais comum do mundo. Em muitos casos, não existe nem aquele famoso: só um minutinho que já falo com você. Simplesmente ficou instituída inconscientemente a ideia de que é possível dialogar com alguém que concomitantemente te ‘ouve’ e manuseia um telefone, clicando habilidosamente com a ponta dos dedos. No meu caso, às vezes, o ‘cara’ vai franzindo a sobrancelhas e o desafio é identificar a que se referem as reações e quem é que realmente importa naquele momento.
O celular vai escravizando e infelizmente a gente não é mais o dono dele. É o oposto. A sensação é de ter que estar à disposição. O cúmulo é o tal do ‘visto por último’, definitivamente as algemas das mensagens virtuais.
Sem hipocrisia, basta um pouco de aborrecimento e problemas que já fico acelerado me prendendo à telinha. A mim serve e aconselho a você leitor, que tente o caminho da disciplina de horários e que exceto raros contatos urgentes, saiba que a grande maioria pode esperar. Deixar para o outro dia algumas respostas faz tão bem ao mensageiro quanto pode fazer ao receptor.
Dois dias, com uma noite ao meio, em diversas oportunidades, é tudo que precisamos quando se trata de selecionar as melhoras respostas e das melhores maneiras, evitando assim crises que podem durar anos e conflitos que perigam afastar amizades verdadeiras definitivamente.
Elegante olhar nos olhos e acompanhar com atenção e paciência. Demonstrar interesse pelo desconhecido que o outro narra por impulso ou necessidade. Receber como um tesouro a confiança de outrem que necessita dos seus ouvidos, sabendo esperar a sua vez de opinar, questionar e se for o caso até dizer que é preciso ir. A tecnologia trouxe uma pressa que tem justificado muita grosseria e a sensação de que o mundo termina depois de amanhã. O que não pode é morrer aquela educação que vem de berço.
Pode não dar tempo de perceber a importância de quem diz e como um sopro, sentir falta daquela voz te dizendo sei lá o quê, enquanto você distraído não se dava conta de que o tempo voa e que é bobagem desperdiçar o seu tempo tendo uma vida medíocre.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb