Pedagogia da métrica, burocracia escolar e autonomia da docência

A sociedade atual traz novidades marcadas por avanços tecnológicos que transformam diversos setores e aspectos da vida cotidiana. Sendo assim, a escola deve, dentro do possível, acompanhar tais evoluções sociais, mas, evidentemente, sem perder seu DNA, sem abrir mão da tarefa de ensinar seus alunos, formando-os para a vida adulta através de suas aprendizagens.
Na publicação no ICL.POS, Valter Mattos da Costa destacou: “Paulo Freire sonhava a educação como prática da liberdade. A pedagogia da métrica transforma essa utopia em pesadelos. O professor deixa de ser sujeito histórico e vira engrenagem de uma máquina que ele não construiu. A escola pública e suas salas de aula são designadas aqui como ‘chão de fábrica’. Um lugar onde o trabalho intelectual é comprimido pela lógica da produção em série, sob metas e prazos inatingíveis.”
A expressão “pedagogia da métrica” surge nesse cenário. Serve como denúncia contra o avanço de uma racionalidade tecnocrática, que subjuga à docência à lógica empresarial, substituindo a formação pela contabilidade do resultado.
A matematização do ensino anula a escuta, silencia a crítica e converte o professor em executor de tarefas mecânicas, desconsiderando o princípio da autonomia da docência assegurado pela legislação educacional brasileira.
Essa política, centrada na produção de números positivos, exerce pressão crescente sobre os professores, que são cobrados como máquinas, adoecem, pedem exoneração e, aos poucos, deixam de educar de fato, evidenciando a precarização do ensino.
Como funciona a pedagogia da métrica? Esse termo surge da precarização do trabalho docente. A precarização da profissão de professor no ensino básico avança a passos largos. Nesse processo, a categoria docente, de base intelectual, vem sendo engolida por um fenômeno que remete à velha e conhecida proletarização. A pedagógica da métrica aponta o problema. Que sejamos capazes de buscar coletivamente, a resposta. Afinal, professor, de que lado está a educação que se pretende emancipadora?
A escola se transformou num depósito de burocracias sobrecarregando o professor com relatórios, planilhas e tarefas administrativas tirando o foco da essência do ensinar. A sala de aula que sempre foi o espaço de aprendizagem, de escuta e do desenvolvimento humano se tornou um espaço sobre controle, com uma burocratização a partir da pedagogia da métrica, com objetivo de anular a autonomia da docência em sua essência, no ato de ensinar.
Sendo esse o contexto educacional do momento seria adequado que os seus gestores escolares, seus secretários da educação, responsáveis pelas redes escolares e suas equipes, demonstrem dignidade, respeitem a autonomia da docência no ato de ensinar, se desenrolem dessa burocracia escolar e se distanciem da pedagogia da métrica. Saiam do conforto dos gabinetes, analisem o que estão oferecendo e se atualizem com a realidade do ‘chão da escola’, ofertando políticas educacionais mais adequadas. Descartem o ‘álibi’ dessa ‘máxima’ que quando o processo ensino-aprendizagem tem bom desempenho evidenciam-se os governantes e os gestores das redes escolares, por outro lado, quando não se atende as expectativas, inevitavelmente, responsabilizam os professores.

Essio Minozzi Jr. licenciado em Matemática e Pedagogia, Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP e Ciências e Técnicas de Governo – FUNDAP, foi vereador e secretário da Educação de Mairiporã.