Às vezes é preciso olhar a casa vazia. Observar as paredes e lembrar de como era. Recordar nos cantos a posição dos móveis que já não preenchem os espaços e diante dos olhos ver surgir uma nova realidade. Quando vazio, um cômodo fica tão diferente.
É como voltar no colégio de infância depois de já ser adulto. Parece que antes tudo era tão amplo. Traz a impressão que quando criança, a gente vê o mundo grandão. Deve ser por isso que o filho imagina que quando crescer, deseja ser igual aos pais. O que vemos debaixo é sempre uma referência; mas voltando a casa vazia, é triste pensar que nunca se sabe o último dia.
O direito de saber, talvez nos ofertasse a chance de preparar o final. Se o belo está no ir e não em chegar, então é vantajoso desconhecer sobre a última curva, para então se imbuir de razões, colocando-se na responsabilidade de fazer agora. Conhecer o dia e a hora banalizaria o mistério pelo conforto de poder deixar o melhor para depois.
Essa semana eu disse ao meu filho que embora pareça o fim e que o fim seja dolorido digerir, o futuro desconhecido, esse sim é o melhor! Que esse melhor sempre vem logo à frente e que depende de nós o sucesso do plantio. Claro que não fui tão metafórico, mas ele facilmente entendeu. Eu não disse para convencê-lo. Ao contrário, proferi para que em mim primeiro fosse medicamentoso alento e aos poucos anestesiasse a frustração humana diante da certeza do imponderável.
Chegará a vez do homem guardar em um bolso qualquer a sua dor, para dar lugar aos eufemismos que construímos às crianças, quando os fatos são tão absurdos que não cabem no mundo que a gente pinta numa folha qualquer, como cantou ‘Toquinho’ em sua aquarela.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb