O olhar de um canalha

Tente olhar nos olhos de um canalha e mesmo que o vocábulo não conheça a fundo o significado, com um pouco de atenção é possível ter certeza o quão vil é seu comportamento. O pouco valor que possui procura ocultar vendendo falsa imagem de prestativo, quando na verdade o que constrói é sempre em próprio benefício e quando encontra oportunidade, apunhala!

Sorrateiro e calculista, age como se rastejasse inofensivo para dar o bote em ataque ardiloso e despudorado. Desentendido, beira a inocência quando a retórica na verdade é blasé, já que o que importa são seus mais particulares e escusos interesses. Comumente bajuladores, encontram lugar nas fileiras, nas fotos e extremamente servis, vão cercando os assuntos para que aos poucos comecem a espetar os adversários com veneno típico e nenhum caráter.

Se para Aristóteles é preciso aperfeiçoar os talentos e buscar a excelência das virtudes, o canalha potencializa o saber em cima de quase nenhuma ética e por vezes, ausente de moralidade.

Quando pensamos ética pelo prisma do compartilhamento de inteligência para aperfeiçoar a convivência, apesar dos conflitos diários, a gente vai tentando equilibrar essa convivência. No caso da canalhice, falo da conduta. Do comportamento canalha que foi adquirido por alguma razão, já que não vem de berço. Fato que o olhar revela que mesmo sabendo que seus atos comprometem a convivência, a vida e os sentimentos do outro, o canalha prefere lavar as mãos para a dor alheia e o faz conscientemente. Para o alcance de sua pretensão, aquilo que mais almeja; ainda que um desejo fútil e egoísta, está disposto a tudo. Seu gozo e satisfação preponderam de modo irresponsável e para tal, não hesita.

Para existir ética é preciso sobrepor a maldade e a canalhice. Só assim para vigorar. Tento ser um ser humano ético e preparado para enfrentar o canalha. Nem sempre consigo e acabo ferindo a minha liberdade interior quando me deixo levar pela raiva e tristeza. Quando permito acorrentar meus próprios pés no túmulo que me foi cavado e que todos os dias preciso deixar para trás.

Para finalizar caro leitor, antes que este se torne um manual de como reconhecer um canalha, ressalto que canalhas são afeitos às frases prontas e motivacionais. Modinhas do tipo: “juntos somos mais…“ porque falam bastante, escrevem pouco. Só leem o que é preciso para atingir seus alvos e diante de um olhar contrário, desviam cabisbaixo como se fossem vítimas arrependidas. Se encontrar algum, maltrate com sua felicidade, energia e com seu tesão pela vida. Assim seja!

 

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb