O mito de Sísifo e a felicidade na rotina

“Que sejamos capazes de viver tudo o que há de sagrado em cada instante.” (Khalil Gibran, ensaísta libanês)

Na mitologia grega, Sísifo foi condenado pelos deuses a rolar uma enorme pedra até o alto de uma montanha. No entanto, sempre que chegava ao cume, a pedra descia novamente, obrigando-o a repetir o esforço por toda a eternidade.
À primeira vista, sua história parece apenas uma metáfora do sofrimento e da inutilidade, mas o filósofo Albert Camus enxergou algo diferente: a possibilidade de encontrar sentido e até felicidade nesse eterno recomeço.
Se pensarmos bem, todos nós temos um pouco de Sísifo em nossas rotinas. Acordamos cedo, enfrentamos trânsito, cumprimos obrigações no trabalho, cuidamos da casa, lidamos com contas, responsabilidades e, no fim, o ciclo recomeça no dia seguinte. A “pedra” de cada um pode variar: o boletim escolar do filho, a meta no escritório, a faxina acumulada ou até mesmo a luta íntima contra nossas próprias limitações.
Mas o que pode transformar essa repetição em algo mais leve é a forma como encaramos cada subida. Em vez de esperar que a felicidade esteja apenas na chegada ao topo, podemos encontrá-la no próprio caminhar. Estar presente no momento, perceber os detalhes que passam despercebidos, dar valor às pequenas vitórias e até sorrir diante dos tropeços: tudo isso faz a pedra perder o peso que parecia insuportável.
Talvez a lição de Sísifo seja essa: a vida não é sobre vencer a pedra de uma vez por todas, mas aprender a caminhar com ela. Podemos ser felizes na rotina quando deixamos de enxergá-la como prisão e passamos a vê-la como oportunidade de crescimento, de disciplina e de descobertas cotidianas.
Reflexão – No fim das contas, a felicidade não está no cume da montanha, mas na coragem de recomeçar cada dia com a mesma esperança.
Saindo desta cultura de ser protagonista, ser o ator principal, as vezes o que mais precisamos e sair do palco e ir para a plateia, sem cobrança, sem forçar nada, somente observando curtindo e entendendo como é bom se apropriar de paz, tranquilidade e entendimento consigo mesmo …
Ou seja: “Ao visitar o interior de si mesmo e purificar o olhar, descobre-se a pedra oculta, símbolo da verdade e do aperfeiçoamento humano e espiritual, como ensinaram os antigos alquimistas no enigma do Vitriolum.”

Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes Email: blanes.med@gmail.com.