“A vaidade é o vício dos que não têm outro brilho senão o reflexo dos olhos alheios.” (Machado de Assis)
Outro dia, no trânsito, vi um motorista buzinando impaciente. Quando finalmente conseguiu ultrapassar o carro da frente, lançou aquele olhar típico de quem quer dizer: “Eu estou certo, você está errado.” Não houve acidente, nem urgência real, só o ego tentando mostrar quem manda. Aquela cena banal ficou ecoando em mim: quantas vezes é o EGO e a VAIDADE que estão dirigindo a nossa vida?
A vaidade, diferente do que muitos pensam, não mora só nos espelhos ou nas postagens cheias de filtros. Ela aparece de forma silenciosa e até elegante no dia a dia. Às vezes, está na roupa escolhida “para impressionar”. Outras vezes, na frase cuidadosamente pensada só para parecer mais inteligente que o outro.
Está presente quando queremos ter razão a qualquer custo, quando nos magoamos porque não fomos notados, ou quando só ajudamos esperando aplausos.
Na verdade, a vaidade não é uma vilã. Ela é humana. Quem nunca quis ser elogiado? Ser reconhecido? Faz parte. Mas o problema começa quando ela nos impede de escutar, de ceder, de colaborar. Quando ela se torna mais importante do que a verdade, a empatia ou o bom senso.
No ambiente de trabalho, por exemplo, quantas vezes participamos de reuniões mais preocupados em parecer competente do que em realmente resolver um problema? Quantas ideias boas ficam abafadas porque alguém quer brilhar sozinho? E nas famílias? Quantas brigas acontecem porque um não seguiu o conselho do outro, como se amar fosse sinônimo de obedecer?
E até nas boas ações sim, até nelas a vaidade pode se disfarçar. Ajudar é nobre, mas quando fazemos isso esperando aplausos, o gesto perde sua essência. Já vi ações voluntárias perderem o brilho porque alguém queria mais palco do que propósito.
A filosofia nos convida a refletir sobre isso há séculos. “Conhece-te a ti mesmo”, dizia Sócrates. E conhecer-se é mais do que saber o que gostamos ou não é perceber nossas motivações escondidas. O que está por trás das nossas palavras, das nossas escolhas, das nossas mágoas?
É claro que vez ou outra vamos nos ver caindo em vaidades bobas. E está tudo bem. O importante é perceber, rir de si mesmo e seguir com mais leveza. Afinal, viver exige coragem, mas exige também sinceridade consigo mesmo.
Reflexão – É preciso coragem para se enxergar sem maquiagem. O verdadeiro valor não está em parecer importante, mas em agir com verdade, mesmo quando ninguém está olhando. A vaidade grita. Mas a sabedoria… sussurra. E só quem silencia o ego consegue ouvir a voz do que realmente importa.
Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes Email: blanes.med@gmail.com.