Mude-se a lei!

Nenhum político no mundo, seja em que tipo de regime for, se compara a um exemplar brasileiro. Os nossos são únicos, capazes de tudo quando o propósito é chegar ao poder e nele se manter. Claro que isso vem de longe, talvez desde maio de 1826, quando se instalou a primeira legislatura no Brasil (deputados e senadores), ou seja, 3 anos e meio depois de proclamada a Independência, ainda nos tempos da monarquia.

A cada eleição a classe aperfeiçoa o ‘modus operandi’ de como se manter nos respectivos cargos. Um exemplo bem típico, foi o tapa na cara que a população levou na semana passada, quando os deputados federais fizeram a tal ‘minirreforma eleitoral’, afrouxando punições através de anistia aos partidos que foram multados porque infringiram normas e leis específicas em pleitos anteriores, não somente no último, em 2022. Outro exemplo, transformaram a lei da ficha limpa em mero pedaço papel.

O Senado ainda vai votar o texto oriundo da Câmara, mas alguém tem dúvida sobre a aprovação?

Um verdadeiro vale-tudo, verdadeira esculhambação aos olhos dos cidadãos que se espremem para pagar multas e juros desumanos por atraso de pagamentos de serviços públicos de baixa qualidade e os escorchantes juros bancários. Enfim, o brasileiro está se acostumando com ‘descondenações’ e, agora, com as “desmultas”. Só falta aos deuses de Brasília ressuscitar falecidos.

É a velha teoria dos canalhas: Está fora da lei? Mude-se a lei!

E a coisa está descambando de tal maneira, que todo o trabalho da operação Lava-Jato, que recuperou bilhões de reais fruto de propinas de empreiteiras à classe política, já está a caminho do ralo. Os altos escalões do Judiciário decidiram que tudo aquilo que foi descoberto não vale mais nada.

As empreiteiras estão de volta às obras do governo, políticos presos estão soltos e não demora participarão das próximas eleições e juízes do primeiro e segundo escalões da Justiça Federal, atuantes na Lava Jato, correm sério risco de acabar como culpados pela operação que escancarou a ladroagem que correu solta anos atrás e que quase levou a Petrobras à falência.

O escritor inglês Lewis Carroll não conheceu o Brasil, nem se inspirou em nossas paragens para escrever ‘Alice no País das Maravilhas’, mas aqui é, certamente, esse tal de País das Maravilhas para aqueles que estão e se revezam no poder.