Que atrevimento da minha parte intitular este artigo me colocando ao lado de um dos maiores romancistas da literatura no século XX. Um dia vou a Paris para tocar o solo por onde andou e me lembro quando passei a admirar Marcel Proust, não apenas por esta obra prima em sete volumes, mas pela maneira que soube lidar com sua ansiedade em um tempo de poucas respostas e de escassos recursos.
Gosto da maneira que ele, ao escrever, explora a sua memória, o tempo e a subjetividade. Quisera eu conseguir transportar isso no volume que estou escrevendo e que será o meu segundo livro. A experiência do tempo como Proust também demonstrou, não é linear, mas sim uma série de momentos interligados que moldam a identidade e a percepção humana.
Quando eu também mergulho nas minhas memórias, consigo encontrar tudo isso como se o meu passado tivera a aparência de uma teia irregular, mas tecida com a mesma ternura das mãos que confeitavam “Madeleine” – aquele bolinho descrito na obra do francês.
Caro leitor, entenda que não posso e jamais me assemelharia a este gênio. Se trata de uma reflexão onde encontro muitos aspectos que me colocam no patamar apenas de poder ao menos me identificar com a maneira com que sua escrita traz à tona emoções profundas e esquecidas. Para Proust, essas memórias não são meras recordações, mas sim janelas para o nosso eu mais íntimo, revelando como o passado continua a influenciar o presente. De fato, influencia, com a diferença de que hoje sou capaz de valorizar muito mais coisas que em algum momento não tive noção da importância.
Não sofro com o tal do “era feliz e não sabia”, visto que ainda bem, desses remorsos não padeço, pois, minha consciência me permite dormir sem sofrimento, já que felizmente fiz boas escolhas e aproveitei bem dos momentos que a vida me proporcionou ao lado de quem amo.
Ando digitando os capítulos de uma nova obra com linguagem simples, já que o eu-lírico é uma criança que aos poucos vai amadurecendo. Em muitos momentos aquela criança sou eu ou ao menos tenha sido algum dia. Como escritor, me coloco no papel de dar vida aquele personagem e mantê-lo distante, até mesmo para saborear a sua evolução de modo que a mim também cause surpresas e espanto a cada desenrolar dos fatos que é claro, se confundem com as minhas vivências.
Em primeira pessoa a narrativa me permite viagens por recônditos que não toquei e me misturo as nuances de Proust, que desafiava as convenções da narrativa linear, criando uma estrutura que se assemelha mais ao fluxo da consciência. Ele consegue permitir ao leitor uma imersão nas nuances da vida interior dos personagens, revelando suas dúvidas, desejos e anseios.
Em breve há novidades chegando, pois quero no ano que vem avançar bastante para a segunda obra. Desta vez em prosa, e há nela um pouco desta reflexão que trago do escritor francês, pois me inspiro no pensamento dele para o convite à reflexão sobre a passagem do tempo, a complexidade das relações humanas e a busca incessante pela compreensão de nós mesmos.
Se te deixei curioso ou ansioso pelo que virá, creia que suas reações não são maiores que as minhas. Tudo está sendo gestado e não vejo a hora de ver nascer.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”