Manual da vida

Sigo aprendendo que as primeiras décadas da vida são marcadas pelos equívocos. A vida devia ser vivida a partir de manuais entregues nas maternidades. Como um livro onde os primeiros capítulos serviriam aos pais e depois haveria boa parte do volume para a adolescência e o clímax viria no início da fase adulta, restando o desfecho apenas de reflexões com chave de ouro já na maturidade. Enxergando a vida como um livro, parece fácil explicar, mas tudo é muito complexo quando se trata dessa criação que somos nós. Deus viu que era bom e disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.
Quanta burrada costumamos fazer neste período porque faltou um bom conselho, um bom exemplo ou até umas boas palmadas. A mim no princípio sobrou inocência e tenho certeza que para aqueles que abusam da boa vontade do próximo, devem no mínimo passar uma temporada no purgatório depois da morte, ou coisa pior. Informação é tesouro e para quem pensa que o mundo é dos espertos, desejo que inferno esteja cheio desses malandros. A grande sedução é sempre acreditar que é possível levar vantagem e que há crime perfeito. O mundo é de quem se arrisca com verdade e não há disfarce que perdure eternamente.
“Fiz de mim o que não soube, e o que podia fazer de mim não o fiz. O dominó que vesti era errado. Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me. Quando quis tirar a máscara, estava pegada à cara.”
Fernando Pessoa disse bem sobre o que a gente acaba se tornando quando aceita qualquer coisa a ponto de virar um terreno baldio onde cada um que passa, joga algum lixo e esse vai se acumulando. Muitas vezes eu aceitei ser tratado de qualquer forma por quem tinha compromisso nenhum com as minhas verdades e elas eu guardei no bolso por carência ou por necessidade de aprovação.
Pobre de mim sem o manual da vida e tão imaturo naqueles tempos. Por vezes desejei que o anjo tagarela de Rubem Braga pudesse contar nos ouvidos de um santo adormecido e que pensou que estivesse morto, alguma história que me chegasse como conhecimento divino, de forma que não tivesse errado tanto.
Até quando as linhas pareciam tortas o grande Mestre me ensinava nas suas escritas. Hoje quando a coisa está feia, me desespero menos. Deve ser pelo meu temperamento, aliás pretendo explorar esse assunto aqui.
Longe de me candidatar a coaching ou especialista em autoajuda, mas encare, leitor querido, como uma humilde partilha deste comunicador que aprendeu ficar de pé, depois de ralar muito os joelhos e que hoje pode dizer, como Lulu Santos: “Já não tenho dedos pra contar, de quantos barrancos despenquei, e quantas pedras atiraram ou quantas atirei.”

 

 

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”