Quatro décadas vividas já permitem contar a história da minha vida para os adolescentes atuais, como se alguns momentos pareçam até uma mentira. Muito, pelo advento da internet e pela velocidade da tecnologia nos últimos anos. Desta forma, em quarenta anos tudo mudou pelo mundo em ritmo frenético. Aqui para os lados da nossa Vila também muita coisa mudou. Pois é, eu já assisti a filmes no cinema em Mairiporã. Não foi no Cine Maria Luiza! Se eu pudesse voltar no tempo, com certeza daria uma passada na esquina da Avenida Tabelião Passarella com a Rua Duque de Caxias, para saber como era o escurinho daquele lugar nas décadas de cinquenta e sessenta, naquele patrimônio feito nosso maior benfeitor: Antônio D’Agostino.
Na virada da década de oitenta para noventa, eu provavelmente devo ter assistido: “Princesa Xuxa e os Trapalhões”, além do mais famoso: “Lua de Cristal”. Quando eu digo que devo ter visto, é que lembro de pouca coisa, mas a risada do Zacarias não saiu da minha memória. O cinema naquele tempo ficava na Rua XV de Novembro, altura do número 188, onde hoje há uma igreja. Ao entrar lá é possível notar que a parte mais ao fundo é mais elevada, pois um dia por ali a mágica da sétima arte acontecia e era projetada a partir daquelas películas.
E pensar que por aqui o clima já foi de Hollywood brasileira e que o cinema nacional já desfilou suas luzes e glamour. Mário Civelli chegou ao Brasil imaginando que trabalharia para contar a história de Anita Garibaldi, mas acabou trazendo a sétima arte para a nossa Vila de Juqueri, que de “terra de loucos” passou a ser a “capital do cinema”.
A Multifilmes surgiu em 1952, época da construção da Rodovia Fernão Dias. O ritmo das produções foi intenso para os poucos recursos da época. Ao todo, nove filmes foram produzidos nos estúdios de Mairiporã, entre eles “O Homem dos Papagaios”, com Procópio Ferreira, Eva Wilma e Herval Rossano; “Fatalidade”, com Célia Helena e Guido Lazarini, e o primeiro filme brasileiro colorido, “Destino em Apuros”, com Paulo Autran, Hélio Souto, Beatriz Consuelo e números musicais de Inezita Barroso.
De loucos nossos antepassados tiveram apenas a loucura de desejar o progresso deste nosso paraíso ao pé da serra. Eu não me lembro quando me apaixonei por Mairiporã, mas deve ter começado naquelas tardes nas salas de aula da escola Hermelina. Hoje, quando eu caminho pelo corredor, tudo parece bem menor que antes. Quando a gente é criança a noção de tamanho fica toda modificada. Daquele prédio eu guardo as vozes dos mestres, o sabor da merenda nos pratos e talheres de plástico, do pãozinho com manteiga que minha mãe deixava fielmente na parte de fora da mochila envolvido no saquinho da padaria do “Shimura” e claro, me lembro também das aulas. Eu não sabia, mas ali eu estava sendo forjado para hoje ter as ferramentas que me permitem toda semana escrever aqui, caro leitor.
O futuro é logo ali e ficaria feliz se por aqui chegar um empresário que invista em salas de cinema. Seria incrível uns filmes passando por aqui. Tomara que nomeiem “Cine Maria Luiza”. Já pensou? Sonhar é de graça e acredito na força da palavra!
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”