Lispector

A essa altura do campeonato, aprendemos que não se deve julgar um livro pela capa. Mas, e quando nós passamos da capa, chegamos às primeiras páginas e, ao não dar de cara com aquilo que esperávamos, simplesmente desistimos da leitura?
Esses dias, isso me aconteceu. Estava até animado para a leitura de um livro da consagrada Clarice Lispector, afinal, seria o meu primeiro. Uma ou 2 páginas depois, já estava duvidando do motivo de ser uma obra tão célebre: alguém entendeu alguma coisa? Porque eu não havia entendido nada até então, e olha a quantidade de palavras que cabem em 1 ou 2 páginas.
Deixei o livro de lado por alguns dias (ou semanas) e, se não me fosse obrigatória a leitura para o curso da faculdade, muito provavelmente não teria voltado. Mas voltei, dando uma segunda chance para Clarice. Não que ela precisasse, afinal, para uma autora tão cultuada e respeitada em todo mundo não mudaria nada uma leitura a mais ou a menos. Mas para mim fazia. Até porque, se todo mundo entendia, o que havia de errado comigo?
Continuei mergulhando nas palavras que não faziam sentido até que, em algum momento, elas começaram a fazer. É claro que uma hora ou outra elas deixavam de fazer sentido novamente, mas isso já não importava porque o fio condutor já estava ali e nele eu podia me agarrar para seguir em frente.
Enfim, entendi porque Clarice consegue levar tantos para tão longe e porque seu trabalho permanece um mistério a ser desvendado cada vez que alguém o lê.Ninguém te prepara para dar de frente com as Clarices da vida e continuar seu caminho, mesmo sem ter certeza de onde isso vai te levar.