Quando era criança ouvia falar na missa sobre os hipócritas e não sabia o que significava. Para mim eram uns personagens daqueles que o Bom Pastor não gostava, aliás quero principalmente analisar a opinião Dele. O tema hipocrisia é cada vez mais frequente e um mal que no tempo de Jesus e até hoje assola o mundo até mesmo dentro das igrejas. Um terrível malefício que reflete consequências na vida de quem pratica e de quem é vítima.
Na antiguidade, a conotação não era tão negativa, já que remetia a ideia de que hipócrita era como um interprete de sonhos, talvez um oráculo. Até mesmo um bom orador, com boa capacidade de se expressar em público, poderia ser considerado alguém que se enquadrava nos traços da hipocrisia.
No entanto, já há bastante tempo, a palavra ganhou a conotação que tem até hoje. A ideia de que hipócrita é o mascarado, ou seja: aquele que não é o que aparenta ser, não é aquilo que vive ou finge viver e que na realidade sua conduta é absolutamente oposta a representação que busca parecer.
Nem me surpreendo mais, principalmente quando encontro quem gosta de me apontar o dedo. O tempo passa e quando as máscaras caem, se descortinam os grandes teatros. Claro, todos temos nossas incoerências. Também tenho as minhas.
Fingir algo, não é marketing pessoal e para uma turma considerável ultrapassa a hipocrisia e chega no caráter torto. Nas histórias bíblicas, não havia nada que deixasse Jesus de Nazaré mais furioso do que esse tipo de pessoas quando se aproximavam. Ele suportava os ladrões, adúlteros e portadores das mais distorcidas enfermidades morais. A estes Ele sempre acolheu, tratou, curou e restaurou. No entanto quando se deparava com os hipócritas, não suportava.
Interessante que os campões desta hipocrisia eram e continuam lamentavelmente sendo os religiosos. Religião é bem diferente de espiritualidade. As incoerências humanas são um grande desafio e até mesmo ladrões como Zaqueu e prostituas como Maria de Magdala, rejeitados pela sinagoga e apesar de suas incoerências, ao menos não utilizavam maquiagem moral ou teatralidade. Eram o que eram até conseguirem ser melhores no encontro com aquele que os libertou.
Quem me acompanha sabe que já falei sobre isso aqui, mas não resisto a oportunidade de aprender e reaprender de um jeito novo. Diversas vezes na vida me vi irritado com este comportamento e precisei de muita liberdade interior para conseguir hoje na maior parte das vezes não me deixar acorrentar por isso.
“Personas somos”, como no teatro grego, mas prefiro os de verdade. Os que sabem de tudo aquilo que ainda não conseguem ser e principalmente descobriram que por menor que já vale muito a menor intenção de ser melhor.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”