Frustrações do cotidiano

Eu gosto de reflexões e deve ser essa tal de maturidade a culpada. Depois que já se passaram umas décadas da emissão da certidão de nascimento, até o cartório exige que seja atualizada. Meu amigo, se a sua carteira de habilitação venceu algumas vezes, você pode estar como eu neste final de ano: se sentindo velho. Sentir-se meio antigo, embora pareça um destino comum, acredito que tenha a ver com as decepções.

Há muitas coisas que acredito que jamais venhamos a nos acostumar e os desencontros são exemplos disso. A vida humilha com a doença, com a ausência, indiferença e ingratidão. Humilha com a morte e também com a saudade.

A frustração é um encontro certo, já que humanamente acabamos mesmo por depositar a nossa fé em seres falhos que obviamente erram e enganam. Quem idealiza muito acaba por não ver as pessoas certas, isto é, aquelas que existem e que não enxergamos perdendo tempo idealizando.

Idealizar é colocar expectativas e quase sempre quem mergulha, encontra o mesmo fim: a frustração! Como ir em frente sem apostar e arriscar? Cedo entendemos que é preciso audácia para os enfrentamentos de forma que vencedores quase sempre estavam trilhando caminhos que surpreenderam quem estava ao redor.

A velocidade das informações é a responsável por toda essa ansiedade e por multiplicar as decepções. Aceleramos! A pressa faz com que os passos tropecem, verdades não sejam ditas e sem força mental, muita gente adoeça. Não é meu caso na maior parte do tempo. Deve ser coisa do meu temperamento, mas qualquer festinha já me anima, todo sorriso me derrete e uma mentira bem contada normalmente logo me convence.

Não considero inocência, só sei que fé na vida é mesmo combustível para que o ar dos pulmões garanta existência abrindo os olhos diariamente, levantando da cama para um banho bem perfumado e vencendo o sono com vontade de sair de casa.

Esse ano tem sido de descobertas sobre encontrar o que realmente me move e que é importante. Maturidade também ensina não perder tempo com bobagem, não ficar estressado com a pobreza de espirito, arrogância e vaidade. Hoje eu já tiro de letra umas frases maldosas e geralmente vou fingindo que não entendi, caso alguma alfinetada seja oferecida.

Aquele ímpeto de reagir na mesma moeda me traz preguiça. Não respondo por falta de tempo mesmo e já sei exatamente como não permitir que a palavra de quem não merece, tire minha paz por muito tempo, mas apesar disso eu ainda me frustro.

Deve ser por um processo religioso que condicionou muitos da minha geração a crer que Deus seja o dono da vendinha e que com ele seja preciso barganhar para alcançar os objetivos. Infantilização da fé é um caminho perigoso, já que achar que tudo sempre vai dar certo é sofrer por correntes que nós mesmos fazemos questão de prender aos nossos pés.

Caros leitores, sei que aprovam quando faço reflexões e agradeço nesta semana especialmente ao carinho do Sr. Luis Brilha, que me abordou para carinhosamente dizer que acompanha os escritos aqui no Correio. Como ele, há centenas que chegam ao jornal impresso e distribuído aos sábados, ou então que recebem a versão digital nos celulares. Seja como for, que nosso amado jornal chegue até os senhores, saibam que é um grande privilégio para mim ser um colaborador deste periódico e tomara que algo aqui também te sirva, como me serve com um jeito humano de transbordar as alegrias e as dores.

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”