Esfriou na Vila

O ano está passando muito rápido. Ando assustado com o olhar no calendário e ele cheio de marcações. Ando agendando até coisas pessoais para dar atenção aos amigos. O tempo anda cada vez mais valioso e procuro ocupar com qualidade. Ainda assim, fica muita coisa para trás e quando vejo já terminou mais uma semana.
Se você tem a mesma sensação, acredite, é um bom sinal! Uma demonstração de que você também é útil. Utilidade nada tem a ver com significado e há quem se aproxime apenas pela utilidade e quando ela termina, surgem desculpas de todo tipo para o óbvio que é o famoso: “não preciso mais”. Isso em outras épocas, já me doeu mais, hoje em dia vou em frente com facilidade.
Particularmente não gosto do frio, apesar de ter bastante apetite para os caldos. Levantar cedo e ir para o chuveiro me dá tanta preguiça, apesar de ter certeza que eu gosto muito do meu trabalho e de tudo que faço, no entanto, uma cama quentinha e confortável como a da minha casa é sempre um convite para umas horinhas a mais.
Com tudo isso, o ano que eu amo vai recomeçar em setembro novamente. Até lá, vou administrando e torcendo por dias mais quentes e de preferência com pôr do sol, para garantir os finais das cerimonias de casamento com belas fotos.
Sou dos que amam ficar em casa, ainda mais que agora mora lá uma princesa ruiva de olhos azuis. Os olhos são tão azuis que no fundo deles eu fico observando e parece filme, uma mentira, um milagre ou algo assim. Queria que minha mãe pudesse conhecer sua sétima neta, mas foi morar no céu antes que eu pudesse neste mês organizar um grande jantar para comemorarmos seus oitenta anos.
Dez anos atrás, quando chegaram os setenta, ela estava com pneumonia, mas encontrou forças e ficou em pé com seu vestido azul de bolinhas. Tinha tanta gente lá que já foi morar no céu que as fotos são estranhas de olhar. A gente valsou como se ela fosse uma debutante e foi um dos dias mais incríveis da nossa vida. Virão outros agora, sem que ela esteja conosco, mas vamos festejar por ela, como ela faria.
Reconheço que Mairiporã fica ainda mais linda nos meses de outono e inverno. A serra com a garoa fina é um convite a um fondue doce ou salgado, tanto faz. Nesses dias, os restaurantes da serra fazem com que a gente se sinta em Campos do Jordão. Eu diria melhor que Campos e sem medo de errar.
Nossa hotelaria e gastronomia são de dar inveja e nada devemos a locais de grande procura turística no Brasil. Nós também, ainda bem, cada vez mais estamos sendo enxergados como um atrativo para descanso e boa comida. Na beira da represa há cenários exuberantes. Já tive a oportunidade de conhecer alguns e não desejo parar.
A neblina e a falta de visibilidade também são um convite a escrita. Na minha vida acadêmica eu aprendi que os poetas escreviam melhor e mais bonito neste período. Deve ser pelo fato de que não se pode ver muito além de dias de névoas espessas por entre as montanhas. Eu ando com dificuldade para encontrar dias tristes, embora saiba que eles possam chegar a qualquer momento, mas mesmo assim, uma música boa ainda me desperta a vontade de escrever e me traz boas lembranças afetivas.
Em breve terei novidades por aqui, caro leitor, e por hora separe seu agasalho que as temperaturas me parecem que agora não vão parar de cair.

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”