Entre o céu e a terra há mais do que espaço. Há presença. Há sopro. Há um fio invisível que nos conecta ao divino – mesmo quando não nos damos conta. E é nesse intervalo sutil, entre o mundo concreto e o mundo sagrado, que estamos. É nesse lugar que, ora, habitamos. Nem só matéria, nem só espírito. Somos os dois. Feitos de carne, mas preenchidos por luz. Somos alma em travessia. E por isso, somos pontes.
Pontes entre planos, entre realidades, entre o visível e o invisível. Às vezes, com os pés firmes no chão, enfrentando a rotina, os prazos, as dúvidas. Outras, com o coração nas alturas, buscando sentido, conexão, silêncio. Somos feitos dessa transpassar. Dia após dia, alma e corpo se encontrando na dança da existência.
Ser ponte é permitir que a luz de cima desça em nós e passe adiante. Basta um suspiro profundo, um nascer do sol, um encontro sincero, para nos lembrarmos: estamos aqui, mas não estamos sós. É escutar o que é sutil, mesmo no meio do barulho. É saber que há algo maior guiando os passos, mesmo quando o caminho parece nublado. É ouvir a intuição como quem escuta uma voz antiga e sábia. É confiar em algo que não se vê, mas se sente. Sustentar a fé mesmo nos dias nublados. Acreditar que há propósito em cada travessia, mesmo quando não entendemos de imediato.
Conectar-se à espiritualidade é retornar à nossa origem. É lembrar que há uma centelha divina em nós e que ela pulsa sempre, seja nos momentos de silêncio, nas orações balbuciadas antes de dormir, nas lágrimas que limpam ou nos gestos que curam.
A verdade é que somos elos silenciosos, que ligam pensamentos ao gesto, desejo à ação, coração à razão. Às vezes balançamos com o vento, outras vezes somos abrigo firme para quem precisa atravessar. Estamos sempre em construção, entre o passado que nos molda e o futuro que nos chama com voz mansa.
Também somos pontes quando abraçamos alguém com palavras que não vieram de nós, mas de um lugar mais alto. Quando silenciamos o ego para deixar que o amor fale primeiro. Quando oferecemos acolhimento, sem querer resolver tudo. Quando intuímos. Quando oramos. Quando aceitamos ser instrumento. Confesso que tento ser ponte quando escrevo por aqui. Mas também sou travessia, quando transbordo meus próprios medos e conclusões, para que o rio da minha caminhada possa seguir adiante mais um pouco.
E como toda ponte, às vezes também tremo. Duvido. Sinto rachaduras e o peso do mundo parece demais. Mas, ainda assim, sigo. Porque a alma conhece o caminho. Há uma força amorosa que me sustenta – nos sustenta – quando já não consigo sozinha. E porque sei que, se estamos entre o céu e a terra, é porque temos uma missão silenciosa e bonita: a de levar esperança de um lado ao outro. A de unir. A de passar leveza, fé e cura por onde estivermos.
Eu prefiro viver assim, sei que sou mais feliz desta forma… com o coração aberto para o que é maior que eu, aprendendo a ser caminho, mesmo quando me sinto ponte estreita. Com os pés na terra, mas os olhos voltados para o alto, na certeza de que, mesmo em silêncio, estou em conversa com o sagrado. E a você, caro leitor, desejo que nunca perca a sua conexão com o alto – e nem com o outro. Que seja ponte sempre. Que leve luz onde houver sombra, paz onde houver pressa, presença onde houver ausência. Porque entre o céu e a terra, a sua travessia também é sagrada.
Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.