Gosto de discorrer sobre a ingratidão. Geralmente os piores são aqueles que recebemos em casa, apresentamos o ambiente e convivemos de forma que tiveram acesso a intimidade. Adentraram no âmago da família, ouvindo as histórias e nos viram nus quanto as dores e fragilidades do caminho. Apesar de tudo isso, os ingratos um dia se levantam e com muita facilidade simplesmente vão embora. Nesse momento é que a gente se dá conta que não havia proximidade e sim interesse. Viram as costas e partem sem dificuldade. Não se trata nem de reconhecimento do que foi feito por eles, mas um desrespeito a história que acreditamos ter construído juntos.
Descobrir ter importância nenhuma é uma cruel realidade quando nos deparamos com os ingratos. Eles estão por aí em toda parte à espreita de novos amigos para sugarem a utilidade até a última gota. Até que consigam se escorar e atingir seus objetivos friamente calculados. Quando alguém vai embora desta forma, sem que você faça falta, pode ter certeza: a proximidade estava disfarçada de utilidade, já que na verdade o que importava era sua utilidade.
O tempo passa, o mundo gira e como dizem os antigos: dor de barriga não dá só uma vez, mas se não der também, não importa. Além de analisar, compartilho aqui com você leitor, a receita para que percebe quando um ingrato se aproxima. Veja as situações a luz da reciprocidade. Talvez só você procure, só você se preocupe e do outro lado venham apenas raras migalhas. A medida que a utilidade for terminando, as migalhas vão ficando mais escassas até que tudo vire ausência e que os interesses mudem. Então eles aparecem em novos lugares, com novos amigos e ainda culpam você.
Outro aspecto é que são encantadores. No momento da conquista, tudo é possível e sempre há um caminho. Depois, começa a burocracia. Fica necessário quase protocolar um pedido. Quando você não convém, o seu problema passa a ser exclusivamente seu. O que antes era tudo nosso, torna-se: não consigo te ajudar. Sempre já quem estenda a mão. Às vezes é possível chegar em algum lugar com ajuda de alguém, mas via de regra o bom mesmo é escalar na unha e com suas próprias forças, sem esperar reconhecimento ou gratidão.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”