Declaração de um cidadão Mairiporanense

Em 2016 recebi esta honra de ser chamado mairiporanense. Teve até evento, placa e comemoração. Desde pequeno fui acolhido nesta terra que me viu dar os primeiros passos pelas calçadas e de mãos dadas com minha mãe. Meus familiares chegaram aqui para amassar o barro das antigas olarias no Rio Abaixo.

Anos depois também pisei nestas ruas outros dias vazias e que hoje estão repletas de tanta gente, de tantos carros e tantos sons. Não sou tão velho assim; aliás velhice não se mede por números. Conheço gente velha na casa dos vinte e poucos. Fato é que como se fosse hoje, lembro de atravessar a deserta Avenida Tabelião. Em dia de domingo, só de vez em quando via passar algum carro. Lembro do Padre Aloisio, que descansa em Itajubá MG, conduzir a procissão na Sexta-Feira Santa, enquanto a gente batia as matracas para simbolizar a dor do senhor morto.

Antes de morar mais de cem mil, aqui também já foi a minha vila, que já não era de Juquery, mas tinha um jeitão de interior. Até o pastel da feira parece que era diferente. Os meninos chutavam bola ferindo a ponta do dedão e a gente não ouvia falar de morte por tiro. Ostentação era poder comprar um misto quente na cantina da escola e ver no inverno a fumacinha do queijo derretendo.

Duvidasse mordia junto o papel de tão gostoso. No meu caso desembrulhava do saquinho da padaria um pãozinho com manteiga que religiosamente minha mãe colocava no bolso menor da mochila. Tinha até fila na escola pela manhã e perfilados a gente cantava o hino com receio de ser repreendido pelo olhar severo da Diretora.

O sonho da minha vida era ir ao Playcenter e cheguei lá! Como também fui quilômetros distante daqui, mas sempre com aquela ansiedade de na volta beirar a represa e seguir o olhar na janela do ônibus para ver as águas e logo avistar o Jardim São Gonçalo, sabendo que ali na frente estaria em casa.

Em casa! Exatamente assim que eu me sinto neste solo sagrado do lado de cá da Serra da Cantareira e hoje vejo que mesmo não nascendo aqui, fui sempre seu filho e desejo que seus 132 anos de emancipação, mesmo com todo distanciamento, seja comemorado nos corações iguais ao meu. Com vontade de te ver crescer, desenvolver e ser cenário de lembranças bonitas, como as minhas. Parabéns Mairiporã!

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb