De malas prontas

Viajar é mais do que sair de casa com uma mala na mão. Viajar é um convite da vida para abrir as janelas da alma e deixar que novos ventos soprem por dentro. Cada estrada percorrida nos lembra que o mundo é vasto, infinito em possibilidades, e que somos pequenos aprendizes diante dessa grandeza. O coração se expande quando os olhos encontram paisagens que até então só existiam em sonhos. Se eu pudesse viajaria todo mês.
Há quem pense que o tempo é eterno, mas ele corre veloz, como rio caudaloso que não volta atrás.
Os dias escapam entre os dedos, discretos, e se não nos permitimos atravessar fronteiras, tanto externas quanto internas, corremos o risco de envelhecer sem ter provado os sabores que a vida espalhou pelo caminho. Conhecer novos lugares é também conhecer novas formas de existir.
Conheci tão pouco ainda e já passei dos quarenta. A cada viagem não somos apenas turistas; somos colecionadores de instantes. Uma conversa com alguém que nunca vimos, o pôr do sol em uma cidade desconhecida, o sabor de um prato simples em um mercado de rua, um sotaque e um costume. Tudo isso são sementes que ficam plantadas em nós e que florescem mesmo depois de muitos anos.
O mundo é grande demais para caber na rotina. Ele pede passos ousados, coragem de sair do lugar comum e se permitir ser surpreendido. Há poesia em cada esquina do planeta, há histórias guardadas em cada pedra, em cada rio, em cada olhar estrangeiro que cruza o nosso. É preciso sentir para compreender que viver não é apenas existir.
Florianópolis, Maceió, Recife, Rio de Janeiro ou Berlim, não importa! Viajar é colocar o corpo em movimento e sentir a alma despertar. Ainda mais para mim que amo os aviões. As viagens de carro também são ótimas e para fisgar o signo linguístico em todas as suas possibilidades, quero lembrar também as viagens interiores. Nelas descobrimos nossas fragilidades e nossas forças.
Percebemos que o medo é pequeno diante da imensidão do horizonte, e que a alegria mora nas pequenas conquistas de cada caminho percorrido.
A vida é breve, e por isso mesmo precisa ser intensa. Não se trata de acumular riquezas, mas de acumular memórias. Cada viagem é um capítulo escrito em nosso livro secreto, um testemunho de que passamos pelo mundo e não apenas o observamos da janela.
Se há um chamado que ecoa dentro de cada um de nós, é o chamado da estrada. E quem escuta esse chamado descobre que o mundo, com toda a sua imensidão, cabe dentro de um sonho realizado. Viajar é um ato de coragem e de amor: coragem de partir e amor de retornar, carregando consigo a certeza de que a vida, quando bem vivida, é feita de caminhos e descobertas sem fim.
Dinheiro vai e volta. Há sempre trabalho para quem não tem preguiça. Se você acha que a vida é construída apenas de obrigações com hora de começar e terminar, lamento. Eu já mudei de ideia faz tempo. Prefiro a fatura de meses para pagar, do que ficar somente imaginando como seria conhecer um lugar tão bonito.
A cada cidade que chego, me deleito e ao partir, fica sempre a vontade de voltar. Olho encantado os mapas e logo meu pensamento vai até lá. Viajar é estar sempre a caminho e já que viver é percorrer estradas, eu quero cada dia uma diferente.

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”