Críticas, reflexões e idiotização

Uns dias de descanso e outros de aflição me fizeram repensar novamente sobre o tempo e lembrar que não é possível esperar do outro aquilo que não pode e não sabe oferecer. A vida e o tempo jamais param, mesmo quando algo ruim acontece. Não há como pedir uma parada técnica como faríamos em alguma partida esportiva. Empregos estão sendo perdidos, há pessoas nos hospitais, casamentos sendo desfeitos, amigos traindo amigos e até gente sendo sepultada. Nada disso cria espaço para se refazer. É preciso aguentar o tranco e subir no trem da continuidade com ele em movimento.

Se para cada coisa existe um tempo debaixo do céu, a pressa de uma vida sem parada pode até parecer contraditória já que um ferimento leva um período de cura e uma semente plantada carece do tempo certo para germinar e apresentar suas flores e frutos. O tempo da espera é o tempo da paciência. Aliás, paciência é palavra recorrente nas cerimônias de casamento que costumo conduzir. Mesmo assim, a loucura do mundo é não nos permitir parar e tudo nos dificulta viver com qualidade e ter essa tal paciência. Dificulta também sentar à mesa e se alimentar adequadamente e aproveitar bem as ocasiões. Na pressa, um beijo se torna uma obrigação, a religião não reflete espiritualidade e se mostra apenas um ritual sem sentido. Tive colegas que se orgulhavam por vender suas férias e se a gente não se policiar, passa o dia inteiro com os olhos em uma tela e quando chega em casa, momento em que ofereceria atenção aos seus, ainda fica respondendo mensagem de trabalho e resolvendo assunto que poderia esperar. É uma loucura o que as pessoas fazem com elas mesmas.

Por falar em telas, acredito que é preciso selecionar sempre os assuntos para não alimentar principalmente o subconsciente com lixo. Pego no pé da minha esposa quando fica assistindo só desgraça, ouvindo história triste com assuntos relacionados a crimes por exemplo. Importante ter cuidado para não absorver apenas o que é ruim do mundo e ter fissura por desgraça. É tão bom assistir algo que acrescente, ensine e inspire. Um bom texto e uma boa história inspiram a viver, mas andamos vítimas de um mundo apressado. O pior é quando somos vítimas passivas e aceitamos qualquer coisa. O conceito de vítima está ligado a exploração de fraquezas por parte de quem aprendeu a explorar. Relações doentias tratam de descobrir a fragilidade para fazer com que essa vítima seja incapaz de deixar de orbitar essa fragilidade.

Tenho a sensação de que todos somos vítimas de algum sistema que deseja nos controlar através de nossas carências. Não vejo nada pior para um adolescente do que se espelhar nesses tais influenciadores da vaidade, da ostentação e futilidade. Claro que nem tudo é ruim, mas vejo muitos jovens estudando apenas a idiotização através dessas redes. Quanto babaca sendo tutor dos nossos filhos, validados até mesmo por pais irresponsáveis, permissivos, amiguinhos e despreparados. O tempo cobra as escolhas, o mundo e a vida não param e a conta chega para o bem e para o mal.

 

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”