A confiança é o grande valor da convivência. Como é difícil escolher o melhor caminho a percorrer. Já confiei tanto e me estrepei tantas vezes. A confiança é a certeza daquilo que não se pode verificar. É o que o outro diz sobre quando você não está vendo ou ouvindo. Quando entro em um consultório médico e digo o que estou sentindo, quando o doutor começa anotar no receituário não me resta outra alternativa, senão confiar cegamente nas recomendações e medicamentos.
Apesar de não conhecer seus estudos, sua vida acadêmica, suas notas e sua capacidade, simplesmente confio. A confiança é tão importante, que no caso de um banco, se todos desconfiamos ao mesmo tempo, o banco quebra.
Como sem confiança não é possível viver, eu decidi desconfiar. Isto é, parar de ter certeza antes de verificar. A desconfiança ajuda muito, pode ter certeza. Quantos canalhas, quanta gente entristecedora e sugadora de afeto que eu teria evitado. Só de olhar para a vida de alguém, as respostas estão prontas. Ver onde chegou ou onde nunca esteve auxiliar a compreender. Desconfiado a gente desconversa, dribla e acaba não tendo agenda.
Acredite, é um livramento! Claro que muitas vezes eu escolho a confiança ainda, já que não abro mão da liberdade de escolher meus caminhos.
A confiança, apesar de tantas quedas, ainda me parece mais bonita do que o muro que a desconfiança constrói. Mas aprendi a não entregá-la inteira logo de cara. Hoje eu a ofereço em doses pequenas, como quem testa a temperatura da água antes de mergulhar.
É um gesto de cuidado comigo mesmo, uma forma de não me deixar ser ferido com a mesma lâmina que tantas vezes me cortou. Porque confiar, agora, é como acender uma vela em um quarto escuro: pode iluminar ou apenas mostrar o tamanho do vazio.
A vida me ensinou que confiar não é ser ingênuo, é ser corajoso. A diferença está em perceber os sinais, em escutar o silêncio, em respeitar a intuição. Nem todo mundo merece saber quem você é por inteiro, e tudo bem. Proteger-se não é se fechar, é saber a hora de abrir. E quando a confiança se justifica, quando encontra morada no outro, ela floresce como jardim cuidado com zelo e aí sim, vale tudo.
Mesmo assim, há dias em que a desconfiança me visita sem bater. E eu deixo que ela fique, que me aconselhe, que me lembre de tudo o que já vivi. Não como rancor, mas como memória. Porque não se trata mais de amargura, e sim de sabedoria. Confiar deixou de ser uma entrega cega e passou a ser uma escolha lúcida. Aprendi que não preciso provar nada para ninguém, apenas preservar o que ainda me resta de inteireza.
No fim das contas, o que mais desejo é manter meu coração inteiro, mas não endurecido. Que eu saiba confiar quando for possível, desconfiar quando for necessário, e seguir em frente mesmo quando as certezas forem poucas. Porque viver, no fundo, é isso: um constante equilíbrio entre se proteger e se permitir. E é nessa dança delicada que sigo tentando aprender a confiar, sem me perder de mim.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”