Carnaval, belicismo e eleições

Nem mesmo a folia do Carnaval, que permite extravasar a tensão vivenciada no dia a dia, será suficiente para acalmar os ânimos na política. Deputados e senadores voltam do recesso, assim como os parlamentos estaduais e municipais.

No caso específico de Brasília, o ambiente parece de belicismo, com enfrentamentos que prometem ‘sangrar’ o governo. Uma enorme ofensiva se enxerga contra os últimos atos do Executivo. Os ânimos em relação ao Supremo Tribunal Federal também tendem a ficar mais acirrados. O embate entre os três poderes se mostra inevitável e dentro dos ministérios a percepção é a de que deputados vão endurecer o jogo. Não há mais confiança nos acordos com o Governo Federal e o caminho para aprovação de projetos na Câmara se mostra cada vez mais difícil. O que vai sobrar disso tudo, só Deus sabe.

Também nas câmaras de vereadores a tensão vai ser protagonista, pois em todas elas 99% de seus inquilinos pretendem seguir na função, ou seja, vão para a reeleição. Um dos ingredientes, nesse caso, é a busca de apoio (inclusive financeiro) de deputados estaduais, com quem a cada dois anos trocam favores eleitorais.

Se houve um tempo em que a característica peculiar de um pleito municipal era de pouco ou nenhum interesse de outras esferas políticas, isso mudou com o tempo. A partir de 2010, passou a ser mútuo, principalmente com a determinação de se repassar dinheiro do bilionário fundo partidário às legendas e candidatos de cada município.

A esse movimento todo, parecido com um complicadíssimo jogo de xadrez, soma-se a ameaça cada vez mais real das redes sociais voltadas às fake news. Leis, projetos e intervenções de ‘xerifes’ das esferas judiciais têm sido insuficientes para brecar a postagem de mentiras que desqualificam as pessoas. As fakes são um instrumento que afugenta homens de bem e incentiva uma boa parcela de picaretas a ingressar na vida pública.

Em todo esse quadro, é importante destacar que 2024 é um ano curto. A partir de junho, os parlamentares começam a se preocupar única e exclusivamente com as eleições municipais em seus redutos e vai ser praticamente impossível debater e aprovar projetos durante esse período. O recesso branco vai ser a tônica no segundo semestre.

De cima para baixo, ou seja, de Brasília para os municípios, a meteorologia eleitoral prevê tempestades com consequências inimagináveis.