Respeito quem acredita que seja o fim. Não é meu caso. Posto que creio e quero encontrá-lo junto a tantos que se foram e que deixaram tão boas lembranças. Minha prece a você e condolências aos familiares por sua passagem. Fresca em minha memória a nítida lembrança me remete as tardes da escola Hermelina, na expectativa todo ano para saber se no próximo teria aula com o Professor Ayrto.
Tinha medo, pois a figura em um rompante gesto altivo já o revelava disciplinador e exigente. O mestre é bravo! Dizíamos pelos cantos. Pois bem, quando chegou a minha vez fui logo surpreendido pela alegria com que distribuía as folhas devidamente mimeografadas. Preparara tudo com capricho e o domínio ortográfico era só o início dos tantos ensinamentos com que apresentava o conteúdo. Geografia até hoje para mim tem cheiro.
O odor do álcool das folhas de sulfite se misturando ao das folhas de árvores molhadas pela chuva e as gotas resvalando a janela de frente da Avenida Tabelião. A cabeça atenta fervilhando de informações e a retórica convidando a descoberta de um novo mundo em nossas cabecinhas infantis caminhando para a adolescência.
Com o tempo, o medo foi sendo substituído por carinho e admiração. Afetuoso e bem humorado, já começava a comemorar conosco as vitórias do tricolor paulista, que naqueles anos acabava de emplacar os dois títulos da Copa Libertadores e do mundo. E o mundo era realmente nosso, querido Mestre! Nele cabiam todos os nossos sonhos e o seu orgulho de nos lembrar quase diariamente que seu filho era o “Espiga” da “Malhação”. Se você leitor, tem mais de trinta, deve entender o que significa.
Ainda bem, pudemos falar a respeito muitas vezes depois que deixei de ser aquele menino da sétima série. Saudações tricolores e apertos de mão ao relembrar das minhas melhores lembranças de infância nos tantos anos que passei naquele prédio de número 721. Fica sua obra, imensa saudade e uma terna lembrança.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb