Às vezes fico quieto

Sigo amadurecendo nos contrários e aprendendo que a vida é o lugar da psicologia e que psicologia não um conjunto de conhecimentos guardados nos livros. Todas as ciências que estão em torno deste conhecimento e querem fazer amadurecer, tomam das taças das nossas próprias experiências. Nas noites em que o céu nublado esconde as estrelas que aprendo a sensibilidade de enxergar no escuro o contato com a matéria prima que necessito para ser forte. Na infância a gente fantasia que a vida seja sempre linda e ordenada.

Hoje já consigo perceber a beleza das escuridões e saber que não há perfeição em viver. Imperfeição não deverá ser então motivo de infelicidade.

Andei entendendo o valor dos avessos e dos dias que dão errado. Deixo de me preocupar com o que vão pensar da minha fragilidade. Os anos vão me deixando despreocupado com a aprovação alheia. Tento me posicionar coerente e ser justo. Quando não consigo, não vejo problema em me desculpar. Espelho do jeito que passei a ver as experiências pelas estradas por onde já andei e olha leitor, não foram poucas.

Deus foi meu grande pedagogo e me conduziu pela mão como um professor que orienta seu aprendente. Só assim consigo hoje ver claramente como ser bom ensinante. Construí no gerúndio, como quem sabe e precisa recordar todos os a beleza do processo, pois morrerei sem estar pronto.

Mudei tantas vezes de ideia até criar algumas convicções. Tanto eu falava em posturas que tinha como certas, que hoje enxergo diferente e não há vergonha alguma. O deslocamento do tempo me deixa olhar com distanciamento cada situação. Gosto de sair de cena e no silencio que há distante dos holofotes, me avalio como uma obra incompleta, ponderando e refletindo.

Olho o todo sem egoísmo com algumas certezas. “Já não tenho dedos pra contar de quantos barrancos despenquei, de quantas pedras atiraram ou quantas atirei…

Estou alcançando a visão serena da vida como fazem os místicos. Deixando bobagens serem bobagens. Fico elegendo as verdadeiras causas de contentamento para não ocupar demais a mente com o que é pequeno. Ninguém nasce maduro e ficamos maduros quando nos engajemos ao processo de amadurecer. A vida merece ser abraçada do jeito certo e o silêncio é uma chance que todo mundo merece de polir o metal valioso que somos, para que volte a brilhar na hora certa e para quem merece ver o brilho.

O desejo continua sendo o de brilhar, mas não o brilho bobo do palco iluminado, mas sim a satisfação de poder colocar no travesseiro a cabeça sabendo que fui eu mesmo e, assim sendo, fico satisfeito. Alegria das rugas e Deus me colocando na dimensão de uma graça.

O meu extraordinário é essa ajuda maravilhosa que não deixa que eu me perca. Nem o tempo e nem eu mesmo, me apagam.

 

 

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”