A vida é esse misto bonito e confuso de acertos e tropeços. É um caminho onde o sol brilha e, logo adiante, a chuva cai. Enquanto uma porta se fecha com barulho, outra se abre silenciosa, lá no fundo do corredor. Nada está totalmente certo, nem completamente errado. Justamente nesse vai e vem é que o coração aprende a bater com mais calma. A vida não erra o compasso; é a gente que, às vezes, quer apressar o ritmo da canção.
Há dias em que tudo parece desandar. As palavras pesam, os sonhos se escondem, e a esperança se veste de cinza. Mas mesmo nesses dias, algo está se arrumando em silêncio, lá dentro da vida. Porque enquanto uma dor se instala, há sempre uma alegria sendo preparada, costurada com fios invisíveis, esperando o instante de surgir.
A tristeza, por mais dura que pareça, é muitas vezes o intervalo antes da próxima alegria. O tempo, esse mestre paciente, sabe o momento certo de cada coisa. O que hoje parece perda, amanhã se mostra livramento. O que agora dói, depois ensina. É preciso aprender a esperar, com o coração em paz, mesmo sem entender. Porque o relógio de Deus não se atrasa, apenas marca o tempo certo das flores, dos reencontros, das respostas que ainda não chegaram.
Ando buscando a paciência humana como quem quer aprender uma arte rara e que poucos dominam. Queremos o fruto antes da flor, o desfecho antes da história. Mas a vida, sábia, só entrega o que estamos prontos para receber. Às vezes, é preciso suportar a demora para que o milagre amadureça. O que vem depressa, vai depressa. O que vem no tempo certo, fica.
Exatamente aí é que a gente lembra da fé: essa força discreta que segura a alma em pé quando tudo balança. Ter fé é acreditar que, mesmo sem ver, há um sentido escondido nas voltas da vida. É confiar que o bem não falha, apenas se disfarça por um tempo. É entender que Deus trabalha no silêncio, e que as respostas mais bonitas chegam quando a gente aprende a descansar.
No fim das contas, a vida dá certo e dá errado. Justamente isso que a torna tão viva. Porque em cada queda há um aprendizado, e em cada acerto, um novo desafio. Viver é aceitar os contrastes, as pausas, os recomeços. É olhar para o céu e dizer: “Eu confio.” E seguir com o coração aberto sabendo que, de algum modo misterioso, tudo conspira para bem.
Essas convicções me permitem, nos dias como hoje, suportar o que parece demora. O que demora na verdade precisa mesmo passar pelo tempo do amadurecimento. Nós é que somos apressados demais.
E assim, entre o que dói e o que floresce, a vida segue seu curso de milagres pequenos e grandiosos. A gente vai aprendendo a caminhar mais leve, a agradecer mais, a compreender que o tempo é sábio e o coração, resistente. Porque mesmo depois das noites longas, a manhã sempre chega e traz consigo o perfume da esperança. Já se pode sentir no ar: a primavera começou a chegar, e com ela a promessa silenciosa de que belos dias estão por vir. Amo os finais de ano e de setembro para frente, sei me encher mais de entusiasmo para o novo, lamentando menos qualquer que seja a ausência e as perdas.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”