“Quando a estrada for doída demais
No breu da tristeza ou da solidão
Na mão de um amigo está sua mão”
(Padre Fábio de Melo, Amigo onde Deus é)
Toda vez que eu escuto essa canção, me recordo de que na vida é preciso atribuir o verdadeiro valor. Empresto aqui não só o título do Padre Fábio, mas a certeza da necessidade cada vez maior de reconhecer nas relações a força humana que Jesus tinha, sendo antes de tudo o amigo. O Mestre sabia ser! Chegou primeiro o simples gesto de emprestar o ouvido, o olhar e o colo aos seus amigos, quando lhes faltara naqueles dias em que nada havia de extraordinário e que se apaixonavam pela sua capacidade de criar elos, sendo amigo antes de ser Deus.
As influências da família tornaram o menino de Nazaré um homem de caráter e os que conheciam, viam despertar em si a vontade de o ter sempre por perto, mesmo antes de sua divindade revelar seus milagres e curas. Estabeleceu nos seus, um vínculo de significado e não de utilidade. Sabia ser gente e viver com alegria o cotidiano de conviver com as diferenças. Fico curioso de o imaginar diante dos mal-humorados e de aprender como se comprometia com a felicidade sendo livre dos nossos idiotismos.
Dado que nada trouxemos e que nada levaremos do que acumulamos, é preciso então se enriquecer do ouro que de fato nos subtrai as amarguras e dissabores diários, regando os nossos dias ao lado de humanos que constroem em nós uma experiência divina de compreender a vida a partir da premissa do sopro que há entre duas eternidades.
Gente azeda particiona, fracassa e leva ao fracasso quem se contamina. Prefiro me decepcionar por tentar, mas não deixar jamais de aglutinar quem vale a pena e expelir as relações tóxicas. Se não dá para ter um milhão, no dia em que a vida der errado, que reste ao menos um e que este seja como Jesus: compreenda o que eu mais preciso e me ofereça na medida certa.
Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb