“A vida só tem sentido quando colocada a serviço do outro.” (Viktor Frankl)

“Doar é multiplicar vidas”

Era uma manhã comum, dessas em que o sol tímido mal rompe o nevoeiro da rotina. Na sala de espera de um hospital, uma mãe segurava firme a mão do filho, à espera de um órgão que talvez nunca chegasse. Em outro canto da cidade, uma família se despedia de alguém querido. No meio da dor, um gesto de generosidade: o “sim” à doação de órgãos. Aquele adeus virou recomeço para até oito pessoas.
Doar órgãos é mais que um ato médico. É amor, coragem e transcendência. É a chance de escrever uma nova história com as tintas da nossa. Quando partimos, não levamos nada, mas ao doar, deixamos algo imenso: VIDA.
Imagine cada pessoa como uma árvore. Algumas completam seu ciclo, mas suas sementes se espalham, fazendo brotar novas vidas. A doação de órgãos é isso: a semente do recomeço para quem já não tinha esperança.
No Brasil, milhares aguardam por um coração, um rim, um fígado, uma córnea. Para essas pessoas, o tempo não passa: ele pesa. E muitas não resistem, não por falta de tecnologia ou profissionais, mas por falta de um gesto: o sim.
Falar de doação é, sim, falar de morte, mas acima de tudo, é falar do que ainda podemos fazer com ela. É permitir que, mesmo após nosso coração parar, ele continue batendo no peito de alguém. É enxergar através dos olhos de outra pessoa, respirar com pulmões que um dia foram nossos. E não é preciso esperar a morte para doar.
Em vida, podemos doar um rim, parte do fígado ou medula óssea e seguir vivendo plenamente. Quantas mães salvaram filhos? Quantos irmãos se uniram nesse gesto? Quanta vida silenciosa renasce todos os dias sem fazer alarde?
Infelizmente, muitas doações não se concretizam porque a família não autoriza. Por isso, é fundamental: converse com quem você ama. Diga que você é doador. Sua partida, um dia, pode ser caminho para muitos recomeços.
Reflexão – Em um tempo de pressa e indiferença, doar órgãos é nadar contra a corrente. É escolher ser generoso. É tornar-se semente. É existir mesmo depois do fim.
Se a vida é o maior dom que recebemos, por que não a transformar também no maior presente que podemos dar?

Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes Email: blanes.med@gmail.com.