A minha rua XV de Novembro

Dizem que quase toda cidade do interior tem uma rua XV. Aqui não é interior e não sei se o motivo do batismo foi alguma política clichê. Fato é que fica no centro e começa de frente a igreja matriz indo em direção a uma igreja do rosário. Tipicamente uma geografia interiorana.

A nossa Rua XV já não é mais a mesma e nunca vai ser igual aos meus tempos de quase quarentão. Se eu fechar os olhos, consigo descer por ali e encontrar a direita a Marcenaria Alfa 1. Nem sei onde foi parar aquela rampa que tinha ali. Em seguida, lembro perfeitamente daquela loja de colchões que depois se transformou na esquina doce do Carlão, que já não vende doce. A padaria do Ivan ainda está lá. E vemos o filho do Ivan do outro lado do balcão. Que saudade da ‘Tiporã’ e do Zé Luís com aquela cara de bravo me vendendo pasta AZ e dono das máquinas de xerox mais modernas dos anos noventa.

São tantas mudanças que é preciso forçar a cabeça e mergulhar fundo nas memórias para então conseguir relembrar que o ‘Fernandão’ cabeleireiro, além de cortar cabelo, vendia bombinha. A garotada ansiosa para levar o artefato até a escola. O maior possível e com o estrondo ensurdecedor.

Prosseguindo, a minha lembrança mais bacana é de uma livraria que tinha nome de sapo. Até o fechamento deste artigo, o nome não me veio à cabeça, mas os livros e presentes ficavam expostos em uma incrível vitrine. Falar a respeito me desperta aquela vontade de pedir duas bolas de chocolate na sorveteria do Flávio, que ficava ao lado do escadão da Pernambucanas, antes vizinha. A farmácia já não é do Braga e já não é mais possível vê-lo em pé olhando o movimento da rua.

Se também estou te deixando saudoso, que bom! A Casa Nipon anda está ali, sob nova direção. E naquela época, logo que eu passasse por ela, entraria na loja de discos para namorar as capas e morrer de vontade de levar tudo para casa e tocar nas potentes vitrolas da época. Os aparelhos ‘três em um’, só os mais abastados possuíam. O som proveniente do vinil tinha um prazer difícil de explicar. Nas plataformas digitais de hoje, parece que ninguém ouve as músicas até o final. Tudo isso parece que ficou normal.

Já vou para o final para falar do armazém onde havia um veículo verde ‘antigo’ parado na garagem. Vejo como antes, aqueles barris guardando os grãos e aquele cheiro de tempero enquanto eu segurava as mãos da minha mãe, esperando que ela pudesse escolher o que iria levar. O que é bom, na memória mantém as cores, os sabores, e a nostalgia misturada me leva a querer por um minuto voltar um pouco, como se faz nos filmes. Logo percebo que o tempo não volta e não tem parada.

O que vale é o hoje e o melhor, eu espero, ainda vai começar!

 

Luís Alberto de Moraes tem formação em Letras, leciona há quase vinte anos e prepara o lançamento de um livro de crônicas e poemas. @luis.alb