A frase do título não é minha, mas eu gostaria que fosse. Lya Luft foi muito feliz e sem dúvida, pensar na infância é algo que lembra acontecimentos muito profundos, já que tudo o que vivemos nos primeiros anos deixa marcas que carregamos para sempre. A infância é a base da nossa personalidade, das nossas emoções e até das nossas escolhas. É como o alicerce de uma casa – invisível, mas essencial para tudo que vem depois.
É nessa fase que aprendemos o que é amor, medo, segurança, rejeição. Um abraço dos pais, um elogio da professora, um castigo injusto ou uma noite de medo — tudo isso fica registrado dentro de nós. Mesmo que a gente cresça, estude, trabalhe e construa uma nova vida, essas memórias continuam ali, silenciosas, influenciando quem somos. Muitas vezes, nossos comportamentos e sentimentos na vida adulta são reflexos de experiências que tivemos quando pequenos.
A maneira como lidamos com o afeto, com a perda ou com os desafios pode ter origem lá atrás, nos primeiros anos de vida. É por isso que cuidar da infância é tão importante — não apenas a nossa, mas também a das crianças que estão à nossa volta.
Mesmo quando a memória falha, o corpo e o coração se lembram. Às vezes, sentimos medo sem saber por quê, ou nos emocionamos com algo que parece simples. São os passos que continuamos dando sobre o chão da nossa infância, que mesmo invisível, estão sempre ali, nos sustentando e, às vezes, nos desequilibrando também. Mas esse chão não é imutável.
Ao olhar para dentro, refletir sobre o que vivemos e buscar compreender nossa história, podemos transformar essa base. A infância não deixa de existir em nós, mas pode ser ressignificada. E esse processo é um jeito de cuidar de nós mesmos com o carinho que talvez tenhamos esperado lá atrás.
Esse chão da infância também é feito de sonhos, descobertas e brincadeiras. É ali que a imaginação floresce, que inventamos mundos e acreditamos no impossível. Esses momentos, por mais simples que pareçam, são fonte de força e criatividade, principalmente quando o bicho pega. Ser adulto não é brincadeira e a gente se torna grande meio sem querer.
Tinha pressa de chegar aos dezoito anos e em um piscar de olhos já temo no avanço além da quarta década de vida. A infância explica tudo e no final das coisas, revisitar lembranças me fazem compreender, acolher e aprender a partir das raízes.
Os passos para o futuro são firmes hoje, pois sei exatamente o que faltou, o que sobrou e o que ficou na medida certa. Tenho inúmeros arrependimentos, mas incontáveis acertos. Tudo misturado, posso deitar bem a cabeça em um travesseiro velho e manchado que tenho usado nestas últimas noites. Ele tem o poder de me aconchegar tanto que até o exercício mental de ser autor dos meus pensamentos e gestor da minha mente, me ajudam consciente e inconscientemente. Sinto como se enxergasse de outra dimensão o que acontece ao redor e a lição mais valiosa é mesmo saber quando dizer e quando fazer calar.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”