A cultura da violência em nossa sociedade

O assassinato da professora Elisabeth Tenreiro na escola paulistana E. E. Thomázia Montoro foi uma tragédia anunciada. Já se sabia que o aluno tinha um histórico de violência na sua antiga escola e da mesma forma atuava nas redes sociais. Esse caso ganha holofotes da mídia neste momento, mas logo será substituído por outros, alimentando os noticiários.

A cultura da violência está impregnada em nossa sociedade, chegou nas escolas e não é recente. Entre 2002 e 2023 morreram 24 estudantes, 4 professores e 2 profissionais da educação em 23 ataques violentos em unidades de ensino no Brasil, apontou pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da UNICAMP-SP.

Não se trata de culpar as instituições escolares, pelo contrário, mas sim focar nessa situação, analisá-la e buscar ações específicas de resolutividade impactantes na sociedade brasileira. Os governantes necessitam urgentemente formatar uma Política Pública de Estado – PPE para combater toda essa violência e como a escola está contida na sociedade também deverá fazer parte dessa PPE.

Sabe-se que a educação vai além da ensino formal nas escolas, abrangendo também os âmbitos familiar e social. A educação é uma prática social que visa o desenvolvimento do ser humano, de suas potencialidades, habilidades e competências. A educação, portanto, não se restringe a escola. A educação escolar é uma contribuinte que, em sua essência, atua prioritariamente no desenvolvimento dos conhecimentos através do processo ensino-aprendizagem.

Se a sociedade passa a desprezar alguns de seus valores e princípios éticos neste últimos anos, torna-se necessário a interferência da sociedade organizada estabelecendo os limites adequados através dos nossos governantes.

Observo que as instituições escolares vem se prevenindo contra a violência dentro da escola imitando os órgãos de segurança colocando, por exemplo, câmara nas salas de aulas que, nesse lamentável episódio, não deu conta. Evidentemente, uma instituição preparada para o ensino-aprendizagem não tem cultura de combate à violência como órgãos de segurança com seus profissionais treinados para tanto, diante dos seu objetivo prioritário – garantir a segurança da população.

Na cultura escolar prevalece formar seres humanos com competências e habilidades para exercerem adequadamente a cidadania. Aí entendo ser necessário uma reciclagem de postura com um aprofundamento fazendo valer princípios éticos e valores humanos que essa sociedade atual está deixando de lado, por isso ‘fora de moda’ em muitas famílias e nas práticas sociais de uma forma geral.

Considero que essa ação deve reconquistar esses valores e princípios a partir da adesão de toda a comunidade escolar – pais, responsáveis pelos alunos, professores, alunos, profissionais da educação e comunidade do entorno da escola. Com esse apoio a adequação da prática docente passa a descartar imposições de cima pra baixo, pois hoje tais atitudes são inócuas e tendem a inflamar a conhecida ‘rebeldia da adolescência” alimentando, por exemplo, os oportunistas que atuam camuflados nas redes sociais conquistando a confiança dessas crianças e jovens, alunos das escolas, como aparentemente noticiam nesse caso do assassinato da professora Elisabeth.

As secretarias da educação dos estados e dos municípios tem a responsabilidade de atuar em parceria com as suas escolas e em cada cidade dialogar o tempo todo e, a princípio, convencer os outros segmentos educacionais, os familiares e a sociedade, a adotarem juntos essa estratégia e, ainda, evidenciar esse tema junto as mídias para ampliar adesões.

Concluo ressaltando o pensamento de Paulo Freire: “Ninguém educa ninguém, como tão pouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”.

 

 

Essio Minozzi Jr. licenciado em Matemática e Pedagogia, Pós-Graduado em Gestão Educacional – UNICAMP e Ciências e Técnicas de Governo – FUNDAP, foi vereador e secretário da Educação de Mairiporã.