Não me entregue o que não te pedi

Ando tão despreocupado com o que acham que é o certo, com os palpites que chegam e que eu não perguntei, já que no que diz respeito a essa vida, tomei posse e sei que diz respeito apenas a mim. Entendo da minha própria vida, obviamente porque sou a pessoa que de maneira mais insistente, recorrente e repetitiva, observo a mim. Justamente para sentir as minhas experiências.
Ninguém seria capaz de senti-las como eu sinto. Por essa razão sou chato com comentários que não solicitei. Quando eu estiver equivocado, fará parte do meu aprendizado o erro. Errando bastante sim, mas preferindo viver a vida definida por mim ao invés de viver a vida traçada por quem já desejou estabelecer os parâmetros de fora para dentro.
E veja que não falo isso por teimosia, tampouco por alguma rebeldia juvenil que me faça contestar tudo o que vem de fora. Falo porque aprendi, aos poucos, que cada existência tem uma gramática própria, um conjunto de regras íntimas e silenciosas que ninguém, além de nós mesmos, saberá decifrar. E se às vezes escapo de certa racionalidade esperada, é apenas porque prefiro seguir o meu coração, que mesmo quando falha, me devolve alguma forma de verdade.
Há momentos, inclusive, que percebo um certo espanto nas pessoas, como se o simples ato de viver por conta própria fosse uma afronta ao manual invisível que elas carregam. Não raro tentam me convencer de que o certo é outro, que há caminhos mais seguros, que existem normas que precisam ser cumpridas. Eu escuto, respeito, mas sigo. Porque quem habita meu corpo sou eu, e quem perde noites pensando nas minhas escolhas também sou eu.
Talvez a vida seja isso: contrariar expectativas, aprender com os tropeços, aceitar que certas dores são indispensáveis para que a gente descubra aquilo que realmente importa. Não acredito em existência sem falhas, mas acredito em aprendizado honesto, aquele que nasce do enfrentamento das próprias decisões. Assim sigo, arriscando quando preciso, recuando quando a intuição pede e avançando sempre que percebo que a estrada ainda me chama.
E se porventura alguém insistir em contar como eu deveria caminhar, eu agradeço interiormente, mas continuo pela direção que escolhi. Porque viver conforme o julgamento alheio seria desperdiçar essa oportunidade única que me foi dada: ser quem sou, neste instante que me pertence e que jamais acontecerá novamente. Nada me parece mais sábio do que respeitar o curso natural do meu próprio tempo.
E quando erro, porque confesso, erro bastante! Justamente depois percebo que ali reside alguma revelação. Alguma boa lição que aprendi e ainda feliz por saber que foi algo que eu mesmo decidi. Continuo acreditando que viver é um exercício contínuo de liberdade e toda liberdade carrega responsabilidade. Eu assumo as minhas, com todas as dores, falhas e descobertas que me cabem.
Vivo como posso, como sei, e principalmente, como sinto. E que digam o que quiserem, pois, ninguém, além de mim, suportará o tanto de minutos que passo refletindo e por acaso esta noite passado, ouvindo essa ventania toda que chegou por aqui.

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”