Sementes de luz nos terrenos da dor

Na última semana participei da abertura para os dezesseis dias de ativismo, em um evento no plenário da Câmara Municipal, com o nome “Somos todas Janaínas”, em adesão à mobilização internacional pelo fim da violência contra a mulher. Em Mairiporã, infelizmente tivemos esse caso de feminicídio, que ceifou a vida de Janaina: aquela moça que vendia biscoitos próximo ao estádio municipal na Vila Sabesp.
Na época ficamos estarrecidos com tamanha brutalidade. O pai dela, participou do evento e de modo muito generoso, compartilhou a sua dor com todos os presentes. Aliás, imensurável a dor de um pai que perde um filho, ainda mais desta maneira tão absurda.
Quero emprestar aqui, ipsis litteris, algumas palavras proferidas pela advogada que preside a Comissão da Jovem Advocacia na Subseção em Mairiporã, Drª Isabelly Jordão. Em seu discurso, de modo muito profundo, humano e assertivo, ela soube expressar empatia e firmeza ao se referir ao ocorrido e representou bem o sentimento e o grito silencioso no coração de todos para que casos como o de Janaína, não se repitam.
Janaína não é apenas um nome, mas é uma vida que foi interrompida e uma mulher que sonhava, que amava, que era mãe, filha, que lutava para existir em um mundo que, a cada dia, nos revela o quanto ainda insiste em negar às mulheres até o direito de sobreviver. A violência contra a mulher não é um problema isolado, mas sim um problema público, social e estrutural.
Que cada mulher possa encontrar portas abertas, profissionais preparados, um atendimento humanizado (que não julga, não minimiza, mas salva) e protocolos que são eficientes. E também é nosso dever garantir a responsabilização, pois quando o Estado falha, a violência vence e se perpetua.
A história de Janaina nos mobiliza. Ela nos olha e nos pergunta: “O que vocês vão fazer a partir de agora?” E essa resposta precisa vir de todos nós, do judiciário, assistência social, da saúde, da educação, da segurança pública, do Ministério Público, da sociedade civil.
Cada um de nós tem um papel, uma responsabilidade e seguramos a ponta dessa rede. Que Janaina seja semente e que dessa semente possa brotar uma sociedade mais justa, mais segura e mais humana para todas as mulheres.
Parabéns pela integração das secretarias municipais através da pasta do Desenvolvimento Social e sua equipe, por reunir atores importantes para a pauta. Violência por si só é inaceitável sob todos os aspectos.
Que a memória de Janaína não seja um lamento preso ao passado, mas um farol aceso no caminho que ainda precisamos construir. Porque quando uma mulher é silenciada, todo o futuro perde voz, e cabe a nós: cidadãos, instituições e seres humanos; rompermos esse ciclo com gestos que sustentem, protejam e honrem. Que essas nossas palavras encorajem e cumpram o que a história exige: que o amanhã só floresça porque hoje tivemos a dignidade de não nos calar.

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”