Essa semana quando contei para algumas pessoas que dia vinte seria feriado, muitos não lembravam o motivo. Dos que lembravam, poucos sabiam a razão do dia da Consciência Negra. Aliás, em Mairiporã temos o movimento Social Orgulho Negro, conduzido com tanto carinho pela querida Lourdes Toledo, a “Lurdinha”.
A consciência negra nasce como um gesto de reconhecimento profundo. Não se limita a uma data, nem se esgota em um enunciado. É uma convocação silenciosa para olhar a trajetória de um povo que ajudou a formar o tecido vivo do nosso país. Em cada rosto, em cada história, há uma memória e essa memória é a nossa identidade.
Nada de politizar, pois o importante mesmo é a gente lembrar das marcas que permanecem e que nunca podem cair no esquecimento. A consciência negra é, sobretudo, a compreensão de que a dignidade insiste em florescer mesmo onde o mundo tentou interditar caminhos.
A cultura negra atravessa a nossa linguagem e está presente nas músicas, nos sabores, gestos cotidianos e claro, nos ritmos que nos embalam; mas principalmente na coragem que vibra quando lembramos quem caminhou por aqui antes de nós.
Essa lembrança é nossa por pertencimento e a data exige sensibilidade, já que tantas vozes por muito tempo foram silenciadas. Nunca mais serão caladas e essa ancestralidade une gerações, trazendo consigo sabedoria e resistência.
Celebramos essa herança e a beleza que reflete a pluralidade que sustenta o Brasil. Memórias se mantem vivas quando a gente faz com que elas estejam sempre presentes. Cada gesto de lembrança fortalece a percepção de que nenhum povo deve caminhar às margens.
A consciência negra devolve centralidade a quem foi afastado dela ou que se esqueceu que somos tão diferentes, mas filhos dessa nação. Viemos de tantos lugares e celebrar a consciência negra não deve ser um gesto isolado, já que celebramos a nós mesmos.
Preservar o que é nosso, mantem o valor a nossa essência em um contínuo movimento de reconhecimento e respeito. É a certeza de que recordar não nos divide. Pelo contrário, nos reúne. Ao lembrar essa data honramos a brasilidade que compartilhamos e que é fruto de uma incrível miscigenação. Lembremos, pois que lembrar não é retornar ao passado, mas convidar para um futuro de bases sustentadas pelas nossas mais verdadeiras tradições.
Que o Dia da Consciência Negra seja saudado com respeito, com afeto e com a certeza de que essa memória está viva e pulsa dentro de cada um de nós.
Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”