Disfarces do cotidiano

Estamos sempre disfarçando. Como dizemos no teatro: personas somos. A vida é um grande palco onde os papéis mudam, mas o cansaço permanece. Fingimos compreensão, serenidade, força. Depois de ver partir quem amamos, é necessário vestir a máscara da normalidade e voltar à rotina, como se tivéssemos entendido que a vida é assim mesmo, feita de chegadas e partidas, de ausências que aprendem a conviver conosco no café da manhã.
Disfarçamos e seguimos, como se a dor fosse algo que simplesmente a gente colocasse no bolso. Colocamos um sorriso no rosto e seguimos caminhando, mesmo quando cada passo pesa como se fosse o primeiro depois da queda. Fingimos que está tudo bem, e o mundo agradece esse fingimento, porque a sinceridade da dor incomoda. A sociedade adora quem sorri, mas não sabe o que fazer com quem chora.
Quando um sonho morre, temos que nos conformar rápido. É quase uma ordem silenciosa: o tempo não para quem sofre. Se um grande amor acaba depois de sermos abandonados e o castelo desmoronar, é preciso acordar e obrigatoriamente continuar, como se nada tivesse acontecido. Como se um pedaço de nós fosse arrancado e ainda assim o corpo seguisse inteiro. Como se não existisse vazio. Vamos ficando especialistas em se conformar.
A cada perda, um novo papel, uma nova persona. Um novo relacionamento é um disfarce perfeito para parecer que a ferida está curada.
Aprendemos a esconder os remendos da alma sob o verniz de sorrisos, selfies e promessas. E quanto mais mostramos ao mundo o quanto estamos bem, mais distante ficamos da verdade que grita em silêncio dentro de nós.
Pois é, pessoas não podem ser substituídas, mas são. Mesmo dilacerados por sepultar alguém que amamos, é preciso continuar pelos que ficaram. Afinal, há demandas, contas, prazos, filhos, compromissos, tudo o que não nos deixa parar. A vida tem pressa, e não nos concede o direito do luto demorado. O coração ainda sangra, mas a agenda insiste em dizer: “você tem que seguir”.
Um quarto vazio, cheio de lembranças e de ausências, é na fala dos outros apenas um detalhe. Dizem: “a vida é mesmo assim, levante a cabeça”. É preciso, então, se enxugar as lágrimas e vestir o disfarce da resiliência, essa palavra tão em moda, tão usada por quem precisa parecer forte. Ser resiliente virou quase uma obrigação e um papel que se exige, mesmo quando o coração não decorou as falas.
E assim seguimos. Uma hora a gente se fecha em um canto e se dá ao direito de saborear a própria verdade. Porque, no fundo, nunca sabemos as histórias que se escondem por trás dos sorrisos. Cada olhar guarda um segredo, cada rosto traz um ensaio interrompido.
Somos todos atores de uma peça chamada vida e tentando parecer inteiros, mesmo quando por dentro só restam fragmentos de um amor, um sonho, um tempo que não volta mais.

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”