Honoráveis bandidos

Em ano pré-eleitoral deputados e senadores se movimentam no sentido de beneficiar a si próprios, um expediente que, na visão deles, facilita a reeleição. Desde sempre essa prática condenável ocorre, sem que a sociedade se manifeste e os poderes, de modo geral, se incomodem.
Duas decisões desta semana refletem como a coisa é feita em Brasília, sempre em favor de quem, constitucionalmente, elabora as leis. Ou seja, agem descaradamente para tornar a legislação maleável quando se trata dos parlamentos da República.
A primeira, é o famigerado fundão eleitoral, que torra o suado dinheiro da população, dividido entre os partidos, sejam eles com muita ou pouca representatividade. Quem tem mais parlamentares, recebe mais, os outros, de acordo com o tamanho de suas bancadas.
O governo federal do PT estimou que suas excelências fossem seguir a previsão feita de conceder R$ 1 bilhão a esse escandaloso fundo, mas o que sem viu durante a votação, foi não só revoltante, como um tapa na cara do brasileiro. O dinheiro que será colocado à disposição daqueles que vão disputar as eleições é cinco vezes maior que a estimativa, ou seja, R$ 4,9 bilhões. O preocupante nisso tudo, é que todos assistem passivamente à movimentação de deputados e senadores que legislam em causa própria. Como já dizia o filósofo e teórico político irlandês, Edmund Burke, “para que o mal triunfe, basta que os bons fiquem de braços cruzados”.
A segunda, sancionada pelo presidente da República, com alguns vetos, é a mudança na Lei da Ficha Limpa, um dos poucos instrumentos jurídicos que barrou, na última década, os picaretas, vigaristas e ladrões que se locupletam do dinheiro público, impedindo-os de disputarem eleições.
A nova lei foi abrandada e vai permitir que ‘honoráveis bandidos’ (com a devida licença do escritor Palmério Dória) retornem à cena e novamente tenham acesso aos cofres da Nação.
E o quadro só não se tornou gravíssimo, porque o Senado, num rasgo raríssimo de consciência, barrou iniciativa da Câmara dos Deputados, que aprovou proposta para livrar corruptos com mandato da cadeia, quaisquer que fossem os crimes. Ou seja, seriam transformados em deuses.
Isso tudo nos leva a repetir, à exaustão, a frase do jornalista brasileiro Diogo Mainardi, que disse textualmente: “No Brasil não tem partido de direita, de esquerda, de nada, tem um bando de salafrários que se junta para roubar”.