Independência e vida

“A liberdade do sujeito está em assumir sua própria responsabilidade.” (Jacques Lacan)

No próximo dia 7 de setembro, o Brasil celebra oficialmente sua independência, proclamada em 1822. Foi um marco histórico que nos lembra da coragem de romper com a dependência e de sonhar com um futuro de autonomia. Um grito que ecoou às margens do Ipiranga e que até hoje simboliza a busca por liberdade.
Mas, ao olhar para essa data, não consigo deixar de pensar: e quanto à nossa própria independência? Será que já conquistamos a liberdade mais difícil de todas, aquela que acontece dentro de nós?
Muitas vezes, carregamos correntes invisíveis que nos aprisionam. Ficamos presos a padrões de comportamento que não escolhemos, a opiniões que não são nossas, a julgamentos alheios que nos impedem de sermos quem realmente somos. Quantas vezes você já deixou um sonho de lado por medo do que iriam pensar? Quantas vezes já se calou diante de uma injustiça para não se indispor? Isso também é uma forma de dependência, um “colonialismo” interior que limita nosso crescimento.
A independência verdadeira não se resume a bandeiras hasteadas ou a datas comemorativas. Ela se constrói todos os dias, nas pequenas escolhas de viver com autenticidade, ética e consciência.
Ser independente é aprender a pensar com clareza, a discernir entre o que nos faz bem e o que apenas nos aprisiona. É assumir a responsabilidade de nossas escolhas e, ao mesmo tempo, reconhecer que a liberdade só é plena quando também é partilhada.
Porque ser livre não é viver sozinho, sem regras ou vínculos. Ser livre é poder construir laços de forma madura, solidária e respeitosa. É reconhecer que nossa autonomia encontra sentido quando se coloca a serviço de algo maior: a família, a comunidade, a sociedade e principalmente a serviço do próprio coração.
Reflexão – Neste 7 de setembro, talvez o convite seja esse: fazer um balanço íntimo. Do que ainda preciso me libertar? Do medo de errar? Da pressa que me consome? Da indiferença diante da dor alheia? Da falta de cuidado com a própria saúde e espiritualidade? Cada um de nós carrega suas correntes, e reconhecê-las já é o primeiro passo para rompê-las.
Se o Brasil de 1822 teve coragem de proclamar “independência ou morte”, talvez hoje o nosso grito precise ser: “independência e vida”. Vida mais consciente, mais humana, mais plena. Vida que transforma a si mesma para poder transformar o mundo ao redor. Porque, no fim das contas, um país melhor começa sempre na independência interior de cada um de nós.

Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes Email: blanes.med@gmail.com.