Um ano em palavras

Faz um ano que passei a escrever esta coluna. Foram 48 textos e um punhado de ideias que, vez ou outra, pareciam fugir da mão. Toda semana, diante da página em branco, encontrei um convite: transformar vida em palavra. Nesse tempo, descobri que produzir por aqui não é só sobre ter algo a dizer, mas também sobre estar disposta a escutar o que a vida sussurra nos intervalos, a olhar o cotidiano com mais calma e mais alma. Uma fila de mercado, um café que esfria, uma lembrança de infância. Tudo pode ser matéria-prima quando se cultiva o olhar atento.
Lembro da emoção de segurar em mãos o primeiro exemplar impresso com minha coluna. Ver minhas palavras no jornal foi como se um pedaço de mim ganhasse forma física. Essa lembrança me fez voltar vinte anos atrás, quando recebi meu primeiro prêmio em razão da escrita – um computador, em um concurso de redação do Lions Clube, quando tinha apenas 15 anos. Aquele presente foi mais que um objeto, foi a chave que abriu a porta para muitos caminhos que hoje continuo a trilhar.
Entre os textos que nasceram neste percurso, lembro de quando comparei a chama de uma vela e seu queimar instável à beleza efêmera da vida. Ou quando, diante de uma “Noite Estrelada”, mergulhei nas pinceladas de Van Gogh para falar sobre luz e turbulência. Houve também o dia em que o cheiro de pamonha trouxe de volta a infância, mostrando que memória e afeto são temperos que não se perdem. E, ainda, escrevi que “entre o céu e a terra somos pontes”, porque acredito que estamos sempre conectados ao divino, ao mundo e uns aos outros.
Nesse fio de palavras descobri que cada texto é também um espelho de mim e daqueles que me cercam. Foi lindo perceber que, ao escrever, não caminhava sozinha: cada texto encontrou eco em quem leu, criando elos invisíveis entre a minha experiência e a de tantos outros. No fim, descobri que a escrita é encontro comigo mesma e com você, caro leitor. Cada crônica, por menor que fosse, trouxe um brilho novo aos meus dias.
A escrita não apenas me acompanha, ela me transforma. E me deu coragem para olhar para dentro, resgatar memórias, abraçar fragilidades e reconhecer pequenas alegrias que, de outra forma, talvez passassem despercebidas.
Não é por acaso que, tantas vezes, concluo meus pensamentos com “eu prefiro viver assim, sei que sou mais feliz desta forma”.
Essa frase não é apenas um fecho, mas uma escolha constante: a de valorizar a simplicidade, a delicadeza dos dias e a alegria de transformar o comum em encanto. É a maneira que encontrei de lembrar a mim mesma – e a quem me acompanha – que a felicidade pode estar nas pequenas coisas.
Se este espaço fosse uma janela, diria que, em doze meses, vi nascer e se pôr muitos sóis – e cada um deles deixou uma cor diferente nas linhas que aqui ficaram. Que venham outros ciclos, outras colunas, outras manhãs diante do papel. Porque escrever é viver de novo, primeiro no instante em que acontece, depois na memória que se acende nas palavras.
E eu prefiro viver assim – sei que sou mais feliz desta forma… transformando lembranças em partilhas e silêncio em diálogo. E a você, caro leitor, desejo que minhas palavras, mesmo simples, tenham chegado como presença e soprado um pouco de leveza e esperança no seu viver.

Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.