Lutos invisíveis e silenciosos

“Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio… pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem.” (Heráclito de Éfeso)

Nem todo luto há flores ou velórios. Há perdas silenciosas que atravessam nossas vidas sem alarde, mas que doem profundamente e merecem ser reconhecidas. Existem lutos dos quais pouco se fala: uma gravidez que ninguém soube… um lugar que você teve que deixar… um diagnóstico difícil que precisou aceitar… uma versão de você que já não existe mais… perder um bichinho de estimação… se afastar de alguém que ainda está vivo.
Quantas situações que, de fora, parecem banais, mas que por dentro são tempestades. Perdas que não estampam redes sociais, não recebem coro de pêsames e nem mobilizam multidões.
São dores que a gente, muitas vezes, tenta guardar no fundo de uma gaveta da alma, mas que insistem em se fazer sentir. E, quando não damos espaço a elas, vão se acumulando, até que o peso começa a alterar o nosso passo, o nosso jeito de olhar o mundo.
E é nessa estrada silenciosa que, sem perceber, caminhamos até florestas emocionais densas, cheias de becos estreitos e pântanos difíceis de atravessar. Por que falar sobre isso é tão complicado? Talvez porque mexer nessas caixinhas seja, no fundo, encarar o próprio espelho e nem sempre gostamos do que vemos ali, lembra do texto da semana passada sobre ego e vaidade?
O primeiro passo é dar tempo ao tempo e se permitir sentir. Como sempre digo: deserto não é lugar de moradia, e sim de passagem. O luto, seja por uma perda, por uma adversidade ou até por um sonho que não se cumpriu, é um território temporário. Não é destino final.
A vida nos chama a recomeçar muitas vezes. E, em cada recomeço, existe um pequeno luto: pelo que foi e não voltará, pelo capítulo que se encerrou. Sentir faz parte. Respeitar suas próprias emoções é um ato corajoso e de amor próprio.
Reflexão – Nem todos os lutos têm sentenças ou despedidas, mas todos merecem espaço. Reconhecer essas dores invisíveis nas nossas histórias e nas dos outros é um gesto de humanidade. Porque, às vezes, um pouco de empatia já é um grande abraço e se precisar não hesite em buscar ajuda profissional.

Raphael Blanes é Servidor Público Municipal, formado em Gestão em Saúde Pública, Técnico em Vigilância em Saúde com ênfase no Combate às Endemias, especialista em Gestão Hospitalar, graduando em Filosofia e Psicologia. Instagram: @raphaelblanes Email: blanes.med@gmail.com.