Caminhos que a vida desenha sem mapa

Tem coisa que a gente planeja. E tem coisa que simplesmente acontece. Por mais listas que se faça, por mais rotas que se trace, por mais certezas que se tenha, a vida, vez ou outra, nos leva por trilhas que não estavam no roteiro. Um desvio aqui, uma curva inesperada ali e pronto: estamos em lugares que nunca pensamos chegar, vivendo histórias que nunca ousamos imaginar.
É curioso como os caminhos mais bonitos são aqueles que surgem no improviso. A amizade que nasceu de um encontro despretensioso, quando você viajava com um grupo de desconhecidos para as cidades históricas de Minas Gerais. Ou aquele encontro com um ser angelical, que mesmo sendo de uma religião bem diferente da sua, possuem em comum a fé como alicerce da vida, ela ora por você e sua família e sempre estará nas suas preces também.
Ou aquele alguém que caminhou por lugares muito longe daqui, lá no norte do país, mas se aproximou tanto que quando se vê é seu grande amigo e está comendo bolo de milho na cozinha da sua mãe, enquanto fofocam sobre um dia caótico. Ou aquele amor que atravessou sua vida como quem chega atrasado, mas ainda assim chega na hora certa, abala todas as suas estruturas e vira fortaleza para sua alma.
A vida tem dessas. Vai desenhando com lápis invisível o que só conseguimos entender depois. Às vezes, só depois de muito tropeço é que percebemos que tudo fazia sentido. Pensávamos que fosse caos, mas a verdade é que era cosmos. Assim, deslocando certezas, abrindo frestas e preparando o terreno para a manifestação do novo.
Aquilo que parecia confuso, desordenado, dolorido… talvez fosse apenas o universo, com suas mãos invisíveis, desenhando um novo caminho. Porque nem todo desarranjo é queda. Alguns são recomeço, transformação. É o eterno ciclo do oculto revelando-se, da sombra dando lugar à luz, da vida que se reinventa em cada dobra do tempo.
Isso me faz pensar que talvez a vida não exija tanto controle da gente. Talvez ela peça mais confiança. Mais entrega. Menos rigidez. Porque não é preciso saber o destino para seguir em frente. É preciso, antes, estar presente no caminho.
Tem gente que passa a vida inteira esperando a estrada perfeita, sem buracos, com placas visíveis e céu limpo para caminhar. Mas a verdade é que quase nunca é assim. Os caminhos mais verdadeiros são cheios de imperfeições e improvisos, mas repletos de beleza. Carregados de incertezas, mas também de encontros preciosos.
Hoje, se você se sentir perdido, respira. Nem todo mapa é desenhado com antecedência. Às vezes, o rumo certo só se revela depois do primeiro passo. E há graça nisso também, em confiar no universo (ou Deus, se você preferir), em aceitar os desvios, em encontrar beleza no inesperado. Porque a vida, essa artista silenciosa, tem o hábito de nos levar exatamente onde precisamos estar. Mesmo que a gente ainda não entenda o porquê.
E eu prefiro viver assim – sei que sou mais feliz desta forma… aceitando que nem tudo precisa fazer sentido de imediato, aprendendo a caminhar mesmo sem sinal de GPS e abrindo espaço para os milagres que só o imprevisto pode trazer. A você, caro leitor, desejo coragem para seguir mesmo sem mapa, olhos atentos para ver o invisível e coração aberto para os caminhos que não estavam nos seus planos – mas que talvez sejam exatamente o que a sua alma precisa.

Drielli Paola – @drielli_paola. Servidora Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo. Bacharel em Direito, com pós-graduação e extensões universitárias na área jurídica. Entusiasta de psicologia, história, espiritualidade e causa animal. Apaixonada pela escrita.