Meus passos adiante

Tem dia que a gente acorda cansado antes mesmo do sol nascer. O corpo levanta, mas a alma parece que fica ali, deitada, querendo mais cinco minutos de paz. A rotina pesa. É conta para pagar, notícia ruim na televisão, compromisso atrás de compromisso. E aí vem aquela pergunta quietinha, mas que cutuca lá no fundo: será que é só isso? Será que a vida é mesmo só correr e tentar não se atrasar?
Mas aí, quando a gente para um pouco e olha em volta de verdade e sem pressa, acaba por perceber que talvez esteja vivendo do lado errado da vida que importa. Porque a vida que vale mesmo a pena não pode ser apenas uma mera busca por números e metas inalcançáveis, nem de uma felicidade embalada para presente e que está sempre no futuro.
A vida boa é aquela em que a gente se entrega, se envolve, se coloca inteiro no que está fazendo. É quando a gente sente que está vivendo, e não só passando os dias. É naquele momento em que você ajuda alguém sem esperar nada em troca. Ou quando escuta uma música que te arrepia, como se dissesse tudo que você nunca soube falar. É quando um abraço dura mais do que o normal, e o tempo parece respeitar aquele instante.
São nessas pequenas entregas que mora o valor da existência. Não é no luxo, nem na correria, mas no que toca o coração de verdade.
Viver de verdade é ter coragem de sentir. De se permitir chorar quando for preciso e rir com vontade quando a alma pedir. Não é esconder os sentimentos, é respeitá-los. Não é ser forte o tempo todo, mas ser sincero consigo mesmo. É deixar a emoção participar da rotina. A vida só ganha sentido quando a gente se importa, quando a gente se doa.
Quando o que fazemos nos transforma por dentro, mesmo que ninguém veja ou que vendo, não atribua valor ainda.
Muita gente passa por essa existência com tanto medo de errar, que só se machuca. Falo desse lance de ter medo do que os outros vão pensar. Mas a vida que vale é aquela em que você escolhe viver mesmo assim. Com tropeços, com cicatrizes, com histórias que nem sempre têm final bonito, mas que são suas. Cada vez que você se levanta depois de uma queda, está escrevendo um capítulo importante da sua própria história. E isso ninguém pode tirar de você.
Morar num lugar como Mairiporã ensina muita coisa. O tempo corre mais devagar, a natureza fala baixo, mas diz muito. É como se tudo lembrasse a gente do essencial: estar presente. Olhar no olho. Sentar para ouvir. Cultivar silêncio. Porque a vida que vale a pena não é medida por aplausos, mas pelo tanto de verdade que a gente põe em cada passo.
E viver com verdade é, no fim das contas, o que realmente dá sentido ao caminho. Então, o que me resta é ir frente!

Luís Alberto de Moraes – @luis.alb – Autor do livro “Costurando o Tempo – dos Caminhos que Passei”