O rei está nu

Um conto do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805 – 1875) relata a história de um rei muito severo e vaidoso; não admitia ser contrariado. Certo dia apareceu um homem se dizendo alfaiate, na verdade um charlatão, e se ofereceu para fazer a roupa mais bonita que qualquer monarca, em todo o mundo, jamais havia tido. Mas tinha um porém, ele avisou que somente as pessoas inteligentes poderiam vê-la. O rei, tocado pela vaidade, logo se interessou e o contratou. Providenciou todos os materiais que lhe fora solicitado. Fios de ouro, tecidos finos, adereços de diamantes e tudo que havia de melhor e mais valioso.
Acomodou o “alfaiate” em um atelier e deixou que desenvolvesse seu trabalho. Passadas algumas semanas, como não teve notícia, o rei foi ao local onde estava sendo confeccionada a roupa. Viu uma mesa vazia, e o homem fazendo inúmeros movimentos como se estivesse medindo, costurando, esticando etc. O rei, para não transparecer diante de seus súditos que não estava vendo nada, começou a elogiar. Por sua vez, os súditos presentes, que nada viam, para não passarem por ignorantes, também elogiaram.
Após mais uma semana, o alfaiate deu o trabalho por terminado e convocou o rei para ir vestir a roupa. Este, para não deixar passar em branco, convocou todo o povo para um desfile onde ele mostraria sua nova roupa. Assim foi feito. Com o rei nu, e todos fingindo que viam as vestes reais, o desfile seguiu, mas não se manifestavam para não passarem atestado de ignorantes. Somente uma criança, na sua pureza e inocência, vendo toda aquela encenação, gritou: “o rei está nu!!”.
Essa metáfora criada por Andersen, cai como uma luva para o atual momento vivenciado pela política brasileira, interna ou externa. Os governantes brasileiros parecem não enxergar problemas de toda natureza, que acabaram relegados ao plano secundário, e enxergar apenas o espetáculo dantesco que envolve os três poderes e o ex-presidente Jair Bolsonaro. As autoridades não falam e não enxergam nada que não esteja relacionado a isso.
Externamente a situação também é preocupante, pois o tresloucado rei (presidente) dos EUA só enxerga maneiras de encurralar o rei (presidente) brasileiro, com a taxação elevada de produtos brasileiros transformou a economia num pandemônio, com previsão de prejuízos financeiros e demissões cujo alcance ainda não foi possível medir. Tudo beira a catástrofe.
A diplomacia brasileira, que está muda, e transferiu o protagonismo de suas ações ao presidente Lula, se assemelha muito a um elefante solto dentro de uma loja de louças.
O dia ‘D’ estabelecido por Donald Trump se aproxima rapidamente, e embora o medo seja latente no setor produtivo, parece que todos fingem nada enxergar.
Como na metáfora de Andersen, nosso rei (Lula) se já não está, vai ficar nu. E todo o povo, à reboque.